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(XXVII) O traço de Álvaro Siza Vieira

Agora, o Porto, mas a pensar em Lisboa… Um contemporâneo acompanha-nos. Quando, na sequência do tremendo fogo do Chiado de 1988, houve que reconstruir o coração de Lisboa, foi lançado o desafio a Álvaro Siza Vieira o arquiteto aceitou, na condição de encontrar um novo conceito para o mais antigo dos lugares que formaram a Lisboa medieval. E houve quem se perguntasse: como seria possível a um portuense de gema ser chamado a reconstruir Lisboa? Sou testemunha da inteligência e do entusiasmo que animaram o arquiteto. Só quem não conhecia a história portuguesa, poderia duvidar desta solidariedade antiga entre as duas primeiras cidades portuguesas – aquele de onde houve nome Portugal e a capital dos Descobrimentos. Jaime Cortesão bem disse que o Porto é a nossa única cidade-estado e ao falar dos fatores democráticos na formação de Portugal lembrou que a revolução de 1383-1385 foi resultado de uma aliança forte e intrínseca entre as duas cidades, solidárias por natureza. Eis como fácil foi que o arquiteto do Porto tenha compreendido como ninguém a melhor estratégia para tornar viva de novo a cidade que a lenda diz ter sido fundada por Ulisses. E o resultado está bem à vista. O Chiado renasceu moderno e vivo, olhando para o futuro, graças ao traço de Siza.

Álvaro Siza Vieira nasceu em Matosinhos, à beira da Foz do Douro, filho do engenheiro Júlio Siza Vieira e de Cacilda Carneiro de Melo. Casou-se com a artista Maria Antónia Marinho Leite Siza Vieira (1940-1973), prematuramente falecida, tendo dois filhos. Entre 1949 e 1955 estudou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde lecionou de 1966 a 1969 e depois de 1976. Adolf Loos, Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto e Le Corbusier são referências do percurso profissional e artístico de Siza Vieira, podendo dizer-se que procedeu por essa influência à criação do que se designa como modernismo arquitetónico português. O primeiro destaque é sem dúvida a Casa de Chá da Boa Nova em Leça da Palmeira que é uma das joias do património cultural português. A ligação ao arquiteto Fernando Távora, mestre de Álvaro Siza, merece especial menção, já que a Escola do Porto tem em ambos referências pioneiras, até pela respetiva capacidade inovadora, com consequência além-fronteiras. Lembremo-nos dos exemplos das Piscinas de Marés (Leça da Palmeira), do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, da Igreja de Marco de Canaveses, da Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre). Além da América (Brasil e Estados Unidos) e da Ásia (Coreia do Sul), encontramos obras de Siza Vieira em Espanha, Países Baixos, Bélgica. São de sua autoria o Plano de Recuperação da Zona 5 de Schilderswijk (Haia), dos anos oitenta, os Blocos 6, 7 e 8 de Ceramique Terrain (Masstricht), o Centro Meteorológico da Vila Olímpica de Barcelona, o Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela), o Café Moderno de Pontevedra, a Reitoria da Universidade de Alicante, o Pavilhão de Portugal na Expo-98 (Lisboa); o edifício Bounjour Tristesse (Berlim) ou a Fundação Nadir Afonso (Chaves). Não é possível dar uma lista completa das obras fundamentais do arquiteto português. Mas por exemplo sentimos especial emoção quando vemos o projeto Serpentine Pavillon em Kensington Park da autoria partilhada de Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, onde encontramos a marca indiscutível da escola portuguesa da moderna arquitetura. A lista de prémios é impressionante, a começar no Prémio Pritzker da Fundação Hyatt pelo projeto de renovação da zona do Chiado e a continuar na medalha Alvar Aalto (1988), no Prémio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe, Prémio Nacional de Arquitetura (1993), Medalha de Ouro do Royal Institut of British Architects; Prémio Luso-espanhol de Arte e Cultura; Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza; Prémio Vida e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores e Prémio Nacional de Arquitetura Espanhol.

O traço de Álvaro Siza é inconfundível. Não podemos falar da arquitetura contemporânea sem lembrar o seu caminho. A cidade e o património histórico encontram-se como projetos de perenidade!

GOM

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