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UMA PEÇA DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA POR SEMANA

O CNC e o MNAA divulgam algumas das peças mais significativas do mais importante Museu português.

UMA PEÇA DO MNAA POR SEMANA


O CNC e o Museu Nacional de Arte Antiga levam a efeito desde 2006 uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.



Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 16 a 23 de Junho de 2009

S. Jerónimo



Albrecht Dürer (Nuremberga, 1471-1528)
Monogramado e datado (1521) no canto inferior esquerdo
Óleo sobre madeira
Aquisição, 1880
Inv. 828 Pint


É uma obra-prima do mais genial pintor alemão do Renascimento, criada durante a sua viagem aos Países Baixos nos anos de 1520-21. No conciso diário dessa viagem, Dürer descreve as relações de grande cortesia e amizade que manteve com os dirigentes da feitoria portuguesa em Antuérpia, muito especialmente com Rui Fernandes de Almada,  secretário da feitoria, e assinala, em 16 de Março de 1521, que acabara de oferecer este quadro ao diplomata português. A obra manteve-se sempre na família dos Almada até à sua aquisição pela Academia de Belas Artes de Lisboa, em 1880, quando se situava na capela da Quinta da Má Partilha (Azeitão).

O S. Jerónimo de Dürer constitui uma solução inovadora na iconografia específica e nas formas de representação pictórica do santo patrono dos humanistas cristãos. A usual representação do Doutor da Igreja no seu gabinete de estudo, rodeado de atributos de erudição ou de elementos lendários da sua hagiografia vulgar, é aqui reconvertida em poderosa, concentrada e sintética imagem de um velho sábio que melancolicamente medita sobre a morte e a contingência da condição humana, cujo olhar nos interpela e envolve nesse exercício de sabedoria. O uso do tinteiro ou a leitura do livro foram suspensos, o gesto da mão esquerda indica veementemente o crânio como espelho e destino de todas as vanidades mundanas, o crucifixo, num plano recuado, focaliza a mensagem redentora num destino espiritual e transcendente. No realismo da figura do santo (sabe-se que Dürer usou como modelo um velho de 93 anos), como nos escassos objectos que a rodeiam, todas as sedutoras aparências da forma, da cor e da luz foram magistralmente traduzidas, mas essa capacidade analítica, fenomenológica, serve algo mais que não se apreende na imediata visualização do espaço pictórico e da sua magnífica figurabilidade. Com efeito, o S. Jerónimo de Dürer é um extraordinário exemplo da capacidade da pintura renascentista para sugerir também um espaço de interioridade e de meditação, para dar a ver um “espaço mental”.


Na Galeria Albertina (Viena) e na Galeria Dahlem (Berlim) subsistem quatro desenhos preparatórios para esta composição.

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