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UMA PEÇA DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA POR SEMANA

O CNC e o MNAA divulgam aqui algumas das peças mais significativas deste museu.

Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 3 a 10 de Fevereiro de 2009


O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.


Baptismo de Cristo




Bruxelas
1º quartel do século XVI
Lã e seda
Inv. 28 Tap


Das oficinas de Bruxelas, no início de Quinhentos, saíram dois tipos de tapeçaria com características temáticas, de composição e de dimensão bem diferentes. Um deles, de grandes dimensões, apresenta num mesmo pano várias cenas separadas por elementos arquitectónicos – colunas, pilastras, arcaria – onde predomina um espírito cortesão traduzido por numerosas personagens que contracenam num dinamismo quase teatral. O outro, de pequeno formato e de temática sobretudo religiosa, segue muito de perto a pintura que por vezes copiava1. Este é um belo exemplar deste segundo tipo.


“Eu os baptizo com água para o arrependimento; mas aquele que vem atrás de mim é mais forte do que eu, eu não mereço levar-lhe as sandálias; Ele os baptizará no Espírito Santo e no fogo.” [Mateus 3,11].


O Baptismo de Cristo, um dos elementos fundamentais da doutrina, constitui-se iconograficamente num tema recorrente de toda a arte cristã, pelo menos desde a época bizantina.


“No Baptismo de Cristo a cena compõe-se de dois elementos bem distintos: a purificação na água do rio e a teofania – a descida do Espírito Santo. (…)”. Como notou Strzygowski, a aspersão tem lugar geralmente com uma taça ou concha, na arte italiana, com um jarro, na arte alemã, enquanto na pintura dos Países-Baixos (Roger de la Pasture, Memling, Gérard David) é por entre os dedos que João Baptista deixa correr algumas gotas de água sobre a cabeça de Cristo.”2


Certamente inspirada nas pinturas flamengas do século XV, esta tapeçaria apresenta um esquema de composição habitual nesta época: Cristo, de pé nas águas do rio Jordão, entre São João Baptista e o Anjo, a representação do Pai Eterno e do Espírito Santo, sob a forma de pomba. O Baptismo cumpre-se, pois, segundo a descrição de Strzygowski.


A posição do braço esquerdo de Cristo foi modificada em data próxima à feitura da tapeçaria, provavelmente devido a imposições da Contra Reforma.


A cercadura, estreita e com elementos vegetalistas que se repetem, constitui o remate típico das oficinas de Bruxelas nesta época.


1) Maria José de Mendonça, Inventário de tapeçarias existentes  em museus e palácios nacionais, Lisboa, IPPC, 1983


2) Louis Réau, Iconographie de l’art chrétien, Paris, PUF, 1955

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