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UMA PEÇA DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA POR SEMANA

O Centro Nacional de Cultura e o MNAA divulgam aqui algumas das suas peças mais significativas.

O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.


Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 25 a 31 de Maio
de 2010


Santo Agostinho



Piero della Francesca (c.1420-1490)
c.1465
Têmpera sobre madeira de choupo
Aquisição (leilão da Colecção Burnay), 1936
Inv. 1785 Pint


Adquirido na década de 1880-90 pelo coleccionador Henry Burnay no mercado antiquário de Paris, o Santo Agostinho é um dos painéis que originalmente constituíram o políptico pintado por Piero della Francesca para a igreja dos Eremitas de Santo Agostinho em Borgo Sansepolcro (Itália), obra contratada em 1454 e concluída pelos finais da década seguinte.
O retábulo teria ao centro uma representação da Virgem entronizada com o Menino (painel desaparecido) ladeada por quatro pinturas de idêntico formato hoje dispersas por vários museus: à esquerda, situava-se este Santo Agostinho e o S. Miguel da National Gallery, Londres; do lado direito, inscreviam-se o S. João Evangelista da Frick Collection, New York, e o S. Nicolau Tolentino do Museu Poldi Pezzoli, Milão. Segundo as propostas de reconstituição mais coerentes, o políptico apresentaria também uma predela composta por vários painéis de pequenas dimensões. Porém, desse elemento retabular apenas subsistem quatro pinturas: Crucificação, Santa Mónica e Santo Agostiniano, todas na Frick Collection, e Santa Apolónia, da National Gallery de Washington.
O Santo Agostinho é uma excepcional demonstração da genialidade de Piero, seja pela profunda e solene monumentalidade da figura do Doutor da Igreja e pela extraordinária simplicidade da construção do espaço pictórico, seja pelo magistral virtuosismo de certos pormenores da composição, como a transparente estrutura da vara de cristal do báculo, signo da autoridade episcopal. Seja, ainda, pelos episódios bíblicos que decoram o sebasto do pluvial – uma sequência historiada que abarca a Infância e a Paixão de Cristo -, em que a execução pictural de cada uma das cenas se adapta ao movimento do tecido, sugerindo a natureza têxtil dessas imagens ao negar-lhes uma extrema e límpida definição óptica. No firmal da capa inscreve-se a Ressurreição e, vértice superior da própria figura, a mitra acolhe, por fim, uma imagem de Cristo Triunfante e Ressurrecto. O paramento de Santo Agostinho constitui, assim, uma súmula doutrinal por imagens, uma espécie de compêndio aberto que faz de contraponto ao livro fechado que o santo enverga.
A moldura da obra, embora adoptando um vocabulário classicista, não é original. Foi aplicada à pintura depois da sua incorporação no museu.

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