O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.
Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.
Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Contador Mongol
Índia mogol
Séculos XVI/XVII
Sind ou Guzarate
Teca, sissó, outras madeiras exóticas, marfim natural e tinto, laca, latão.
Prov. Leilão Burnay, 1936
Inv. 1312 Mov
Este imponente móvel composto de dois corpos concentra na frente a sua principal decoração. Nas gavetas do corpo superior, sobre fundo vegetalista e de forma simétrica e repetitiva, recortam-se figuras humanas, em cenas de corte ou de caça, e animais, tendo como eixo a árvore da vida.
Nas portas do corpo inferior é dado grande destaque ao simurgh (retirado da literatura persa) ou rokh (inspirado num dos contos árabes das Mil e uma noites), ave mítica representada junto à árvore da sabedoria onde faz o ninho. Trata-se de um pássaro fantástico também descrito por Marco Polo que se lhe refere nos seguintes termos: “Aqueles que os viram dizem que eles são na realidade como águias muito grandes. Contam que são tão fortes que levantam ao ar um elefante”.
O interesse desta composição tem, ainda, particular significado no plano inferior das portas onde, pela sua indumentária, se destacam figuras de cavaleiros portugueses caçando com grandes lanças. A sua representação na decoração é, sem dúvida, sintomática de uma presença real efectiva.
O modo de construção e técnica utilizados e, sobretudo, o tipo de cenas historiadas e a própria representação dos intervenientes remetem esta peça para produção mogol, distinguindo-a do mobiliário indo-português (embora nele inspirado).
Mogol é o termo usado para designar a dinastia fundada por Babur (chefe guerreiro vindo da Ásia central), que ao conquistar o sultanato de Deli, em 1526, estabelecerá um império maometano na Índia durante mais de três séculos. A palavra virá a englobar a produção artística saída das oficinas imperiais onde se reunia a elite dos artistas das várias regiões do império, resultando em obras que reflectiam as diferentes fontes de inspiração. A esse contexto irá acrescentar-se a marcante influência dos missionários portugueses.
Da fusão de todas essas contribuições resultou uma expressão artística, requintada e minuciosa, com características muito específicas como é o caso deste esplêndido contador.