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UMA PEÇA DO MNAA POR SEMANA

O CNC e o MNAA divulgam aqui algumas das peças mais significativas deste museu.

Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 26 de Janeiro a 2 de Fevereiro de 2010


O Centro Nacional de Cultura (CNC) e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) levam a efeito, desde 2006, uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Direcção do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.



Presépio dos Marqueses de Belas

Joaquim José de Barros (dito Barros Laborão), Joaquim António de Macedo, escultores e António Pinto, pintor
Lisboa, c.1796-1807
Barro, madeira, cortiça, vidro e metal
Esculturas de vulto cozidas (terra cotta) e policromadas; maquineta de madeira entalhada, dourada e policromada
A 358 x L 422 x P 162 cm
Aquisição, 1937 (a Sebastião de Carvalho Daun e Lorena e sua mulher)
642 Esc


Presépio conservado dentro da sua maquineta original de madeira entalhada, policromada e dourada, coroada por dois anjinhos que amparam uma cartela com a seguinte inscrição: Verbum caro factum est (“O Verbo se fez carne”).


A composição deste Presépio constituído por figuras e grupos modelados em barro cozido policromado, assentes sobre estruturas de madeira e de cortiça, organiza-se em vários planos: ao centro, em baixo, num cenário de ruína, representa-se a Natividade entre grupos de adoradores e gentes com oferendas; no plano intermédio, ao centro, representam-se os Reis Magos organizados em cortejo, enquanto lateralmente surgem cenas do quotidiano e à esquerda a “Anunciação aos Pastores”; no plano superior da composição, sobre um cenário pintado, figuras e grupos de personagens de menor escala distribuem-se por entre o casario e a arquitectura variada. Num resplendor raiado, a figura de Deus Pai rodeado de anjos paira sobre todo o conjunto.


A designação de Presépio dos Marqueses de Belas parece resultar da lenda de no “Grupo do Mouro” (1º plano, à esquerda) se encontrarem representados o 1º Marquês de Belas, D. José Luís de Vasconcelos e Sousa (1740-1812), e sua mulher D. Maria Rita de Castelo Branco, filha dos condes de Pombeiro, que eram figuras socialmente distintas e de grande beleza física, segundo a crónica da época; sabe-se que o Marquês foi mecenas de Barros Laborão e que lhe conseguiu o Hábito de Santiago, pelo que por este modo poderia querer homenagear os seus patronos, utilizando-os como modelos.


Pelo conjunto de documentação conhecida confirma-se que o presépio foi encomendado por José Joaquim de Castro, um coleccionador importante e na posse do qual se encontrava, em 1816. Posterior e sucessivamente foi pertença de D. Maria Augusta Fialho de Castro, de D. Maria Augusta de Castro Lemos, do Conselheiro Augusto Fialho de Castro, de D. Francisco de Almeida e de D. Maria da Nazareth Monteiro de Almeida Carvalho Daun e Lorena.


A execução da obra foi entregue a Joaquim José de Barros, dito Barros Laborão (1762-1820), com quem o encomendador se terá incompatibilizado, provavelmente devido a interferências no plano de montagem do presépio (por exemplo, o acrescento de figuras avulsas adquiridas a negociantes e intermediários como é o caso do pintor Pedro Alexandrino de Carvalho). Ao escultor Barros Laborão, para além da execução de alguns grupos, terá cabido a concepção da maquineta – estruturar o conjunto e definir o móvel onde as figuras seriam colocadas –. Barros Laborão foi aluno na Aula de Estuques de João Grossi, e depois de passar por várias oficinas veio a montar a sua própria. Juntamente com outros escultores trabalhou nas estátuas do palácio da Ajuda, sendo da sua autoria a “Honestidade”, a “Diligência”, o “Desejo” e o “Decoro”. Já no final da sua carreira recebeu como ajudantes os seus três filhos formando com eles uma parceria.


Joaquim António de Macedo (1750-1820) executou o “Pescador” colocado no socalco à esquerda da gruta da Natividade, um pastor no socalco intermédio à direita e Grupos de Anjos, que se encontram no tecto da gruta junto da Sagrada Família – algumas das peças estão assinadas e uma delas datada de 1796. Este escultor foi discípulo de Giusti na Escola de Mafra a partir de 1765 (estabelecimento que pela morte de  Giusti veio a ser dirigido por Barros Laborão, c.1790).


Por seu lado, António Pinto (c.1758-c.1820) pintou muitas das figuras do presépio, apesar de se ter especializado na escultura de madeira.


O Presépio, dito dos Marqueses de Belas, pelas características que apresenta é uma peça única e invulgar para a tradição dos grandes presépios de barro portugueses: por um lado reflecte o gosto e a estruturação habitual nos conjuntos do século XVIII, por outro introduz a novidade do acrescento de figuras avulsas, obras de outros escultores ou barristas menores, dando assim início aos presépios modernos onde, em cenários múltiplos, emparelham figuras com origem e qualidade diversas.

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