Número Três – CNC – 31 de Março de 2003.
Dramaticamente, a guerra continua a ser um motivo omnipresente. A terceira edição da “Revista do Mês”, o jornal falado do CNC, que teve lugar no CiberChiado no dia 31 não foi excepção. A Tertúlia reuniu desta vez João Amaral (J.A.) Maria José Nogueira Pinto (M.J.N.P.) e Guilherme d`Oliveira Martins (G.O.M.), tendo como convidado especial Luís Salgado de Matos (L.S.M.). João Amaral iniciou a conversa com o sumário dos acontecimentos do mês de Março e começou por perguntar à mesa sobre se o Prof. Cavaco Silva tem razão quando considera como muito grave e sem precedentes o conflito institucional entre o Governo e o Presidente da República sobre a questão iraquiana. Os tertuliantes foram unânimes em discordar da ideia de conflito institucional. M.J.N.P. começou por afirmar ter visto sim a preocupação de Jorge Sampaio em preservar a unidade nacional – acusando o Partido Socialista de ter rompido o consenso antigo da política externa portuguesa. G.O.M. negou ter havido confronto institucional, recusando frontalmente que tenham sido os socialistas a romper o consenso em torno da solidariedade euro-atlântica. Foi a administração americana que pôs, de facto, em causa a lógica multilateral na resolução dos conflitos internacionais, bem expressa na Carta do Atlântico, subscrita por Roosevelt e Churchill. A ruptura do consenso na OTAN, que existiu no caso do Kosovo e agora não existe, demonstra, porém, que a questão não é nacional. A tomada de posição do Conselho da Europa contra uma intervenção militar sem legitimação pelo Conselho da Segurança das N.U. confirma-o. L.S.M. abundou no argumento já invocado em relação à posição responsável de Jorge Sampaio, tendo, no entanto, exprimido dúvidas sobre a atitude da administração americana – não à luz de critérios de legitimidade mas como erro político. O Sr. George W. Bush até tentou a solução multilateral, no entanto estamos perante uma situação perigosa. A superioridade norte-americana não oferece dúvidas – mas a sequência é perigosa e incerta, após uma vitória. M.J.N.P. insistiu na sua ideia de que o sistema das Nações Unidas é incapaz de solucionar os problemas actuais na cena internacional, salientando a crise grave existente na União Europeia e a incapacidade para novos desenvolvimentos no campo político. Assim, não haverá Política Externa e de Segurança nem novas transferências de soberania para a União. G.O.M. considerou muito grave a situação actual de divisão no seio da União Europeia. Não deverem iludir-se os factos e, por isso, a Europa política mais necessária do nunca. E estão enganados os que desejam ver a Europa dividida. Uma Europa fraca e sem voz enfraquecerá também os Estados Unidos. Eis porque o essencial estará em assegurar uma complementaridade euro-atlântica, há dias defendida pelo insuspeito Jacques Attali… E assim continua a guerra…