RAÍZ E UTOPIA REEDITADA EM ANTOLOGIA PELO CNC
Está já disponível no Centro Nacional de Cultura e em breve nas principais livrarias do país a antologia “Raiz e Utopia-Memória de uma revista 1977-1981”, uma reedição iniciativa do Centro Nacional de Cultura apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, de todos os números da revista à excepção do número 9/10, reeditados em 1988 também pelo CNC e ainda disponíveis.
“Raiz e Utopia” foi uma revista que surgiu na Primavera de 1977, liderada por um grupo de que fazia parte António José Saraiva, com o intuito de restaurar a importância do pensamento autónomo em Portugal, no rescaldo do 25 de Abril de 1974 e do “verão quente” de 1975.
Lutava por uma via personalista e ambientalista, queria repensar a sociedade mas também melhorar a vida. Religar pensamento e acção, estimular críticas e suscitar alternativas para uma civilização diferente.
Desde o número 5 até final a direcção da revista foi assegurada por Helena Vaz da Silva.
Foi uma “pedrada no charco” enquanto existiu, única no seu género em Portugal, e quando parou, em 1981, não foi por falta de leitores, foi porque entendeu ter esgotado o seu projecto e cumprido a sua missão de proclamar uma nova atitude face à vida e à política.
A Antologia que ora se publica é, porém, um acervo de uma extrema actualidade, um cruzamento de diálogos entre ciência, filosofia e ciências humanas, com novas pistas sobre política e sociedade, educação, ecologia, medicina, prisões, radicalismos, terrorismo e homossexualidade, nova filosofia, novos modos de encarar o marxismo e a psicanálise, a emigração, o esoterismo.
Além de grandes entrevistas a personalidades estrangeiras, como Edgar Morin, Martin Walser, Emma Bonino, Ivan Illich ou Cornelius Castoriadis, ou nacionais, como Agustina e Nuno Bragança, incluem-se artigos assinados por Marguerite Yourcenar, Eduardo Lourenço, António José Saraiva, Helena Vaz da Silva, João Fatela, Gonçalo Ribeiro Telles, Madalena Perdigão, Paul Thibaud, entre muitos outros.
Foi também a Revista, e a Antologia é disso expressão, extremamente inovadora no campo estético. No domínio da pintura desfilam os nomes de Noronha da Costa, António Palolo, Ana Vieira, Jorge Martins, Carlos Nogueira, e no da poesia Pessoa, Jorge de Sena, Nemésio, Eugénio de Andrade, Ramos Rosa, Cinatty, Rui Bello, Alberto Pimenta, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge. Colaboraram também nomes como Jorge Molder ou Syberberg. São revelados preciosos inéditos que não voltaram a ser publicados.
Por tudo isto, esta iniciativa do CNC assume contornos de grande acontecimento, é uma nova pedrada no charco no seio da sociedade e da intelectualidade portuguesas.