PRESIDENTE DO CNC E BISPO DO PORTO DEBATEM
PORTUGAL HOJE NA FEIRA DO LIVRO DO PORTO
Hoje, 3 de Junho pelas 18.30, terá lugar na Feira do Livro do Porto o diálogo: PORTUGAL: PASSADO, PRESENTE, FUTURO.
Participarão nessa conversa D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, licenciado em História e Teologia e doutorado em Teologia Histórica, professor na Universidade Católica Portuguesa, onde dirige também o Centro de Estudos de História Religiosa, e o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, ensaísta e docente universitário, actualmente também a desempenhar as funções de Presidente do Tribunal de Contas, depois de ter sido Secretário de Estado da Administração Educativa, Ministro da Educação, da Presidência e das Finanças, deputado independente à Assembleia da República, Presidente da SEDES e Vice-Presidente da Comissão Nacional da Unesco.
Os dois, nas suas intervenções científicas e cívicas, colaborando em publicações, ou nos livros que têm editado reflectem, com profundidade e clareza, sobre Portugal e os portugueses, a nossa identidade, a nossa história, a nossa cultura, a nossa relação com a Europa e o Mundo…
Referindo apenas as obras mais recentes, D. Manuel Clemente publicou no ano passado o livro Portugal e os Portugueses (de que acaba de sair a segunda edição) e muito recentemente 1810, 1910, 2010 – Datas e Desafios (ambos na Assírio & Alvim; e esta sessão é também como que uma primeira apresentação pública desta obra); o Dr. Guilherme d’ Oliveira Martins é autor de Portugal – Identidade e Diferença, editado pela Gradiva em 2007, e tem também um novo livro, de que certamente aqui se falará em primeira mão no Porto, Património, Herança e Memória – A Cultura Como Criação, também editado pela Gradiva.
Manuel Clemente, 1810 – 1910 – 2010 – Datas e Desafios, Assírio & Alvim, 2009
Em 1810 foi a 3.ª Invasão Francesa, derradeiro episódio duma guerra que pôs fim a muito do que Portugal fora até aí. Em 1910, a República, enquanto mudança de regime. Em 2010, confrontamo-nos com outros desafios. No entanto, a sua consideração religiosa e cultural é necessária.
O presente volume junta uma parte do significativo avulso ensaístico do autor. A organização, da responsabilidade dos editores, expressa a hipótese seguinte: o texto inicial, que se destaca do conjunto por características talvez mais próximas da proposição, funciona como tese; os restantes ensaios ligam, adensam e debatem, com conhecimento e paixão invulgares, quanto ali é sugerido.
Manuel Clemente, Portugal e os Portugueses, Assírio & Alvim, 2008 (2ª ed., 2009)
«É habitual insistir-se na nossa infinita capacidade de adaptação, seja aonde for. Pergunto-me se não se trata antes do contrário. Se não devíamos falar até da impossibilidade de deixarmos de ser quem somos, tal a densidade interior que acumulámos. Não temos de nos adaptar por aí além, porque já temos dentro e acumulados os infinitos aléns que nos formaram. Aqui, neste recanto ocidental do continente, sedimentaram-se, milénio após milénio, os variados povos que, do Norte de África ou do Leste da Europa, tiveram forçosamente de parar numa praia que só no século XV se transformou em cais de embarque. Aqui chegaram outros, que depois vieram e continuam a vir das mais diversas procedências. Tanta gente em tão pouco espaço só pode espraiar-se numa geografia universal. Assim foi e assim é.»
(excerto do primeiro capítulo)
Guilherme d’ Oliveira Martins, Património, Herança e Memória – A cultura como criação, Gradiva Publicações, 2009
A cultura ganha uma nova importância na vida política e económica contemporânea. O desenvolvimento humano não é compreensível nem realizável sem o reconhecimento do papel da criação cultural, em ligação estreita com a educação e a formação, com a investigação e a ciência. O que distingue o desenvolvimento e o atraso é a cultura, a qualidade, a exigência – em suma, a capacidade de aprender. Deixou de fazer sentido a oposição entre políticas públicas centradas no património histórico, por contraponto à criação contemporânea. A complementaridade é óbvia e necessária. Basta olharmos os grandes marcos da presença humana ao longo do tempo para percebermos que há sempre uma simbiose de diversas influências, de diversas épocas, ligando património material e imaterial, herança e criação. A nova Convenção-Quadro do Conselho da Europa sobre o Património Cultural, assinada em Faro em Outubro de 2005 e já ratificada por Portugal, é um instrumento inovador da maior importância, no qual pela primeira vez se reconhece que o património cultural é uma realidade dinâmica, envolvendo monumentos, tradições e criação contemporânea. Em representação do Centro Nacional de Cultura, o autor sucedeu a Helena Vaz da Silva na coordenação das Jornadas Europeias do Património e presidiu no Conselho da Europa ao grupo que elaborou a nova Convenção.
Apresentando agora nesta obra reflexões de grande relevância e oportunidade sobre essa experiência.
Guilherme d’Oliveira Martins, Portugal – Identidade e Diferença, Gradiva Publicações, 2007
Fala-se muito de identidade, mas há sempre a tentação de valorizar o que é próprio, em vez de cultivar a ligação com o outro. Identidade e diferença são faces da mesma moeda, são como as duas caras de Jano. A cultura portuguesa é um cadinho de múltiplas influências e de muitas qualidades e defeitos, como na vida. Daí haver nestes ensaios uma reflexão sobre os portugueses, tendo como pano de fundo a História e a Geografia que se encontram na gente, nos lugares, na língua e no desejo de descobrir e de peregrinar. Não há, assim, conceitos, nem explicações globais e muito menos receitas de aplicação instantânea.
Há pistas de reflexão para que memória e vida, pertença e respeito mútuo se liguem. Seremos o que quisermos ser, nas condições concretas que nos forem dadas ou que criarmos. E temos de compreender que a cultura só se enriquece se for aberta e cosmopolita, se for ponto de encontro e encruzilhada, a partir das várias culturas da língua portuguesa, mas também lugar de intercâmbio e exigência que envolva a cooperação além fronteiras e um diálogo activo com a educação e a ciência, tendo como referência o que de melhor se faz no mundo.
António Costa
Comissariado do Programa Cultural
