O que poucas pessoas sabem é que desde 1996 um grupo de amantes da cultura e das peregrinações do Centro Nacional de Cultura (CNC) estão a trabalhar intensamente para promover outras rotas de peregrinação mais autênticas, seguras e belas, que permitam ao caminhante aproveitar e desfrutar da sua experiência única de ser peregrino. Falo dos denominados Caminhos de Fátima, o do Tejo, o do Norte, o Caminho de Nazaré e o do Mar, “perfeitamente sinalizados, que se podem percorrer desde diferentes pontos da geografia portuguesa e também desde Santiago de Compostela”, como confirma ao DN a presidente do Centro Nacional de Cultura, Maria Calado.
Há uma semana fiz a pé três dos percursos mais belos do denominado Caminho do Tejo, 150 km, com os responsáveis do Centro Nacional da Cultura. “O ideal é iniciar a peregrinação na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa”, diz Lourenço de Almeida, que aos 80 anos, além de ser um dos responsáveis do CNC, já peregrinou a Santiago de Compostela 16 vezes e a Fátima mais de 40. “Este Caminho do Tejo é muito belo e agradável para a vista e para os pés”, diz Lourenço de Almeida, “são 150 km totalmente sinalizados por nós, com ótimo traçado, que se podem fazer em cinco ou seis etapas, consoante as condições físicas de cada peregrino”, explica.
Um percurso lindo à beira-Tejo
“Começamos a nossa caminhada em frente do Pavilhão de Portugal e continuamos à beira-Tejo até a Igreja dos Navegantes, no limite entre os concelhos de Lisboa e Moscavide.” Encontramos vários sinais azuis – “são os sinais dos Caminhos de Fátima que encontraremos ao longo do Caminho do Tejo e nos outros três. Em alguns casos, a seta azul fica junto à amarela do Caminho de Santiago, como acontece no do Norte, no qual se juntam”, adianta Maria Calado. A brisa do mar, a paisagem do mar da Palha e a tranquilidade dão-nos a energia necessária para continuar mais dois quilómetros.
A segunda parte do nosso percurso pelo Caminho do Tejo começa em Alhandra e acaba em Vila Franca de Xira, também à beira-Tejo, por um passeio recentemente remodelado, cheio de árvores e onde as velhas faluas e aves do rio transmitem um encanto especial aos peregrinos, muitos deles estrangeiros. “A colaboração das câmaras municipais neste projeto dos Caminhos de Fátima é fundamental, temos contado também com elas para nos ajudar a preparar os melhores roteiros e percursos para o peregrino”, disse Lourenço de Almeida. Um pouco depois, encontramos um grupo de peregrinos que tinham partido da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. Maria de Fátima, peregrina ao Santuário pela primeira vez, diz-se muito feliz por concretizar um desejo de há muito tempo – “peregrinar a Fátima para pedir por toda a minha família”, conta emocionada. Graça e Inês, também do mesmo grupo, muito perto de acabar o primeiro dia de rota em Vila Franca de Xira, confessam: “Este caminho, além de ser muito mais agradável e bonito do que as estradas tradicionais que usámos noutros anos, resulta muito mais seguro para nós.”
O Caminho do Tejo continua pelo interior, por Santarém, e percorre a maravilhosa serra do Caldeirão, Monsanto e Alacena, a entrada em Fátima faz-se pela rotunda dos três pastorinhos até à Cova da Iria.
Os outros Caminhos de Fátima
“Um dos caminhos mais belos é o de Nazaré”, confirma a presidente do Centro Nacional de Cultura. “O percurso começa no Santuário da Virgem de Nazaré, continua pelo interior até à serra do Caldeirão e finaliza na Cova da Iria, como os outros.”
Os que preferem sair do Estoril podem optar pelo Caminho do Mar em direção ao Norte, desde a Igreja de Santo António do Estoril, “também perfeitamente sinalizado e quase sempre à beira-mar”, diz Lourenço de Almeida, que acrescenta com um sorriso: “Pode peregrinar-se a Fátima cada ano por um caminho diferente, porque em breve teremos prontos mais outros caminhos, como o do Sul, desde o Algarve e Santiago do Cacém, pelo percurso que seguiam os cavaleiros da Ordem Militar de Santiago.” O Caminho do Norte é uma boa opção para os galegos e para os minhotos, que o podem iniciar em Santiago ou na fronteira com a Galiza, “seguindo sempre o percurso do caminho português a Compostela, mas ao contrário”, explica a responsável do CNC.
Outra das coisas que mais me surpreendeu depois da minha incursão por um dos Caminhos de Fátima foi a quantidade de estrangeiros que fazem esta peregrinação. “Infelizmente, estes percursos são mais valorizados e utilizados pelos estrangeiros do que por nós, os portugueses”, adianta Lourenço de Almeida. “Aos meus 80 anos, e com 40 peregrinações a Fátima sobre as minhas costas, não me importo de mudar e de melhorar. E recomendo-o a todos os portugueses que tenham a oportunidade de o fazer”, diz.
Artigo de Begona Iniguez, Correspondente em Portugal da Rádio Espanhola “Cadena Cope” e do jornal “La Voz de Galicia”.
in Diário de Notícias, 4 de maio de 2017