Estaremos dispostos a viver sem telemóvel, computador, pomadas antivirais ou boa parte dos tratamentos anticancerígenos? E até turbinas eólicas ou outras energias verdes? Se não, então a curto prazo o mundo terá de iniciar uma nova exploração oceânica, mas desta vez ocorrerá nos fundos marinhos.
As riquezas a explorar serão minerais, mas o seu valor é diferente daquele que conferimos ao ouro ou à prata, já que os recursos minerais que encontramos nos oceanos são essenciais no desenvolvimento de tecnologias que estão presentes no nosso dia-a-dia e sem as quais já não sabemos viver.
Sob o comissariado científico do Professor Catedrático em Geologia da Universidade de Lisboa, Fernando Barriga, a exposição Mar Mineral é em Portugal a parte visível, dirigida ao público, do grande projeto europeu “Blue Mining: breakthrough solutions for sustainable deep sea mining”, o qual envolve 19 parceiros de 6 países.
A necessidade da Europa avançar no desenvolvimento de tecnologia que permita explorar os fundos do mar através de uma mineração responsável e ambientalmente sustentável surge para fazer face a um grande problema. «O projeto Blue Mining é um grande esforço europeu no sentido de colmatar uma grave lacuna no fornecimento de matérias-primas à Europa», explica Fernando Barriga e acrescenta que «a União Europeia utiliza uma quantidade muito maior de recursos naturais do que aqueles que produz, apenas 5% dos que utiliza na sua indústria. E do outro lado dos acontecimentos temos a China que tem a fatia de leão dos recursos minerais».
Assim, «a necessidade de nos voltarmos para o fundo do mar deve-se ao facto de em terra, no continente europeu, a probabilidade de encontrarmos mineralizações significativas serem fracas» e atualmente «a Europa compra essas matérias-primas e isso implica uma dependência muito grande com a qual a UE quer acabar», afirma o Professor Catedrático.
A exposição Mar Mineral que agora inaugura em Lisboa reflete a necessidade de se dar início a esta nova exploração oceânica, mas tendo em atenção às principais premissas do projeto Blue Mining: «para ir para o fundo do mar é preciso tecnologia de extração e é preciso proteger o ambiente» porque «temos de ser capazes de conjugar as duas coisas porque queremos a indústria e o ambiente».
No fundo, de acordo com Fernando Barriga, a mensagem principal da exposição é, quando chegar a altura, «temos de estar preparados para a mineração submarina, de uma forma responsável e sem pegada…ou quase sem pegada».
Mas esta exposição é também uma oportunidade para o público ficar a par das oportunidades que Portugal tem de voltar a emparceirar na exploração oceânica, dado que com a extensão da plataforma continental portuguesa, o país terá uma área de 3 800 000 quilómetros quadrados por explorar, ou seja, mais de 97% do seu território emerso.
E no que diz respeito à existência de minerais nesta extensão, Fernando Barriga explica que «na crista média atlântica temos uma região com 3000 metros de comprimento por 40 quilómetros de largura onde há boas hipóteses de encontrar sulfuretos maciços oceânicos a sul dos Açores. Já a norte dos açores há 3 anos foi descoberto um campo hidrotermal, até agora único, e essa descoberta é muito importante porque chama a atenção para o facto de haver campos hidrotermais, provavelmente jazigos minerais, a norte dos Açores. Depois conhecem-se ocorrências mais modestas, mas que têm de ser estudadas, de crostas e nódulos polimetálicos e de hidratos de gás».
Esta é uma exposição onde o visitante será confrontado com a necessidade de exploração do fundo do mar para responder às necessidades de desenvolvimento tecnológico, através da observação de peças autênticas recolhidas a mais de 1500 metros de profundidade como uma chaminé hidrotermal com 400 quilogramas retirada do oceano Pacífico e emprestada pela empresa Náutilos Minerals, várias chaminés do mar dos Açores, duas pequenas chaminés do Ártico, nódulos polimetálicos cedidos pelo Instituto Coreano de Estudos Oceânicos, crostas ferromanganesiferas recolhidas no oceano Atlântico pela Missão da Extensão da Plataforma Continental, minérios e minerais da Faixa Piritosa Ibérica, e também um AUV em exposição do Instituto Superior Técnico.
Num cenário em fundo azul-escuro, apenas com a luz provocada pelos veículos de observação, através de gráficos, textos, vídeos e peças autênticas, o MUHNAC convida-o a descer ao fundo do mar com a exposição “Mar Mineral –Ciência e Recursos Naturais no Fundo do Mar”, com inauguração marcada para dia 13 de julho.
A sessão de inauguração tem início às17H30 no Amphiteatro Chimico, com uma conferência de Andy Wheeler, Professor de Geologiana University College Cork, Irlanda, acerca da descoberta do campo hidrotermal Moytirra, na zona de extensão da plataforma continental portuguesa a Norte dos Açores.
>> Andy Wheeler – nota biográfica
>> Mário Ruivo – nota biográfica