Pertencente a uma geração de cineclubistas – foi dirigente e animador do ABC-Cineclube de Lisboa demeados da década de 1950 até à de 1960 -, Seixas Santos começou por filmar os documentários “A Arte e o Ofício de Ourives” e “Indústria Cervejeira em Portugal”, tendo fundado, em 1970, o Centro Português de Cinema.
Em 2012, no contexto de uma rubrica regular de programação – “Histórias do Cinema” -, a Cinemateca apresentou-o como alguém que fazia do cinema “um instrumento de pensamento, interrogação e afirmação, atravessado por um intransigente desejo de modernidade”.
Na altura, o realizador protagonizou uma série de cinco sessões-conferência, dedicadas ao cinema da dupla de realizadores franceses Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, de que era um admirador confesso.
“Brandos Costumes”, a sua primeira longa-metragem, rodada entre 1972 e 1975 e escrita em parceria com Luiza Neto Jorge e Nuno Júdice, foi selecionada, em competição, para o Festival de Cinema de Berlim.
A retrospetiva que a Cinemateca lhe dedicou em março último centrava-se nas longas-metragens que realizou, a última das quais em 2011, trabalhando as ideias da representação (do real e dos atores), de descontinuidade, de integração de materiais de proveniência vária.
“Brandos costumes”, “Gestos e fragmentos” e “Paraíso perdido”, (1974/1992) compõem a trilogia inicial de filmes que refletem a ressaca do salazarismo, da revolução de 1974, do colonialismo português. “A lei da terra” (1977) é outro dos títulos da sua filmografia.
Já “Mal” (1999), nas palavras do realizador, é “um olhar sobre o mundo visto a partir de Portugal”, enquanto “E o tempo passa” (2011) foi concebido, segundo o próprio, sob o mote “De tudo se faz o mundo”.
Aos dois documentários com que iniciou a carreira, o realizador não reconhecia um estatuto de vulto, depois de uma primeira tentativa na curta-metragem, nunca completada, em 1961, sob os auspícios do cineasta português Perdigão Queiroga, que teria tido por título “Surprise party” e contava, no elenco, com o realizador João César Monteiro.
Alberto Seixas Santos voltou apenas uma vez à curta-metragem quando em 2005 assinou “A rapariga da mão morta”, produzido e assinado pela cooperativa de cinema Grupo Zero, de que foi um dos fundadores em 1974. Cineastas como João César Monteiro, Jorge Silva Melo, Ricardo Costa, Margarida Gil, Solveig Nordlund e o diretor de fotografia Acácio de Almeida pertenceram também à Grupo Zero.
O realizador participou ainda como ator em filmes como “Um passo, outro passo e depois…”, de Manuel Mozos, “Inventário de Natal”, de Miguel Gomes, “O anjo da guarda”, de Margarida Gil.
Assinou ainda o argumento de “Hoje estreia”, de Fernando Lopes, “Lobos”, de José Nascimento, e foi retratado em “Refúgio e evasão”, de Luís Alves de Matos.
Tendo como formação académica história e filosofia, a formação cinéfila de Alberto Seixas Santos foi vivida nos cineclubes lisboetas, marcada pelos Cahiers du Cinéma e alimentada na Cinemateca Francesa, que frequentou no início dos anos 1960 quando se instalou em Paris durante cerca de dois anos. Uma experiência que, dizia, foi mais relevante no seu percurso do que a frequência da London Film School como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian pouco tempo depois.
Como muitas vezes afirmou, o neorrealismo formou-o, o “rigor geométrico” do cinema de Fritz Lang e “a desorganização do mundo fabricado” por Jean Renoir foram duas das suas maiores paixões. “Sou completamente dividido entre estes dois polos”, “Ford é um caso à parte”, dizia.
Quanto à sua obra, do teor mais ensaísta dos primeiros filmes ao registo mais narrativo dos seguintes, disse, numa entrevista a propósito de “Mal”, que tinha necessidade do “confronto com uma realidade que [me] resiste”, assim como tinha necessidade de adotar uma ética de um “realista utópico”.
“Todos os filmes que realizei obedecem aos mesmos princípios de rutura interna, de colagem, de mistura de materiais heterógenos no corpo da mesma obra. E todos têm fins em aberto. Quem sou eu para decidir do destino dos homens e do mundo?”, escreveu numa nota de intenções para o seu filme “E o tempo passa”.
Foi professor na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) entre 1980 e 2003, escreveu em jornais como Imagem, Seara Nova, o Tempo e Modo, Diário de Lisboa, Diário Popular, Letras & Artes., M- Revista de Cinema.
Em meados da década de 1980 foi diretor de programas da RTP, tendo sido responsável pela programação de cinema e, em 2006, organizou uma retrospetiva da sua obra publicando uma monografia que incide na biofilmografia e no seu rasto no cinema português (Alberto Seixas Santos, ed. Cineclube ABC, 2006).
Em 2014, a ESTC homenageou-o e além de ter participado em “Histórias do Cinema: Seixas Santos / Straub-Huillet”, apresentou uma série de sessões intitulada “Escolhas de Alberto Seixas Santos” que, em 2013, deu a ver obras fundamentais de Ophuls, Renoir, Ford, Rossellini, Bergman, Visconti, Bresson, Rossen, Resnais.
Notícia Diário Digital, com Lusa | 10 de dezembro de 2016
“CNC homenageia o amigo que connosco tantas vezes colaborou!”