A amizade com António Alçada Baptista, Gonçalo Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner e Francisco Sousa Tavares marcou a relação de Mário Soares com o Centro Nacional de Cultura.
Logo a partir de 1958, ano de início da Aventura da Moraes, houve a tomada de consciência da importância para a causa democrática dos católicos inconformistas.
A candidatura de Humberto Delgado e a atitude crítica do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, abriram novas perspetivas, para além da oposição tradicional. Mário Soares considerou desde cedo que havia de reforçar uma frente que lançasse as bases de um regime democrático aberto e pluralista, que prevenisse os erros da Primeira República.
Em 1963 a revista «O Tempo e o Modo» nasce de um compromisso cultural e político, que envolve o grupo de Alçada Baptista e João Bénard da Costa, Mário Soares, Francisco Salgado Zenha e a juventude representada por Jorge Sampaio. É um entendimento premonitório que se revelará, no domínio cultural, não sem vicissitudes, como fundamental na construção da democracia. E sabe-se hoje que muitos milicianos e jovens militares, que criariam o Movimento das Forças Armadas, eram assinantes ou leitores de «O Tempo e o Modo» e seguiam as atividades do Centro Nacional de Cultura, a começar pelo mais influente ideólogo do Movimento, Ernesto Melo Antunes.
O espírito que Mário Soares e António Alçada Baptista partilharam foi de grande importância não só para a preparação do 25 de Abril, mas também para o compromisso constitucional possível depois do Verão Quente e do 25 de novembro.
O Centro Nacional de Cultura foi, assim, nos anos sessenta um lugar fundamental de experiência democrática, tendo em 1969 havido um debate intenso entre as duas correntes da oposição, a CEUD e a CDE. Quem ler hoje a história do CNC facilmente compreenderá o papel fundamental que desempenhou na criação e consolidação de uma consciência democrática – pelo que a presença de Mário Soares não pode ser esquecida.
É essa lembrança e homenagem que desejamos tornar presente!
(GOM)