Notícias

Maria Velho da Costa (1938-2020)

Maria Velho da Costa, prémio Camões de 2002, é uma das escritoras mais representativas da geração que se afirmou nos anos sessenta, coincidindo com a renovação literária de “O Tempo e o Modo”. Assumindo a importância emancipadora da mulher numa sociedade assente na liberdade, na dignidade humana e na consciência do outro é uma referência da moderna cultura portuguesa em diálogo com outras culturas.

O Centro Nacional de Cultura contou em muitas circunstâncias com a sua colaboração e participação em muitas das nossas iniciativas.

Homenageamos a sua memória e apresentamos a sua família sentidas condolências.


“Virtuosismo sem exemplo”

A escritora portuguesa Maria Velho da Costa, Prémio Camões em 2002, morreu hoje, aos 81 anos, disse à agência Lusa a realizadora Margarida Gil, amiga da família.

Segundo Margarida Gil, a premiada romancista estava fisicamente debilitada, mas lúcida e morreu de forma súbita em casa, em Lisboa.

Considerada uma das vozes renovadoras da literatura portuguesa desde a década de 1960, Maria Velho da Costa é autora de conto, teatro, mas sobretudo do romance com obras como Maina Mendes (1969), Casas Pardas (1977) e Myra (2008). “De um virtuosismo sem exemplo entre nós”, considerou Eduardo Lourenço.

Maria Velho da Costa foi ainda uma das coautoras, juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, de Novas Cartas Portuguesas (1972), uma obra literária que denunciava a repressão e a censura do regime do Estado Novo, que exaltava a condição feminina e a liberdade de valores para as mulheres, e que valeu às três autoras um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.

Valeu também a admiração de uma geração que passou a conhecer o coletivo como as Três Marias, aquando da morte de Maria Isabel Barreno. Maria Teresa Horta recorda, a propósito da expectativa do trio em torno do livro, de Velho da Costa dizer: “Se uma mulher sozinha faz este barulho todo, imagine-se o que farão três.” E foi a partir do momento em que Maria Velho da Costa disse esta frase que as três iniciaram o trabalho.

Nascida em Lisboa, em 1938, Maria Velho da Costa faria 82 anos no próximo dia 26 de junho. Licencida em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa e formada em Grupanálise pela Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria, foi leitora do King’s College em Londres, secretária-adjunta da Cultura (1979) presidente da Associação Portuguesa de Escritores e adida cultural em Cabo Verde (1988-1991).

Além das obra referidas, é autora de O Lugar Comum (1966), Casas Pardas (1977), Prémio Cidade de Lisboa, Lucialima (1983), que foi Prémio D. Dinis, da Fundação da Casa de Mateus, Missa in Albis (1988), Prémio de Ficção do PEN Clube, Dores (1994), um volume de contos, em colaboração com Teresa Dias Coelho, Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários e o Prémio do Conto Camilo Castelo Branco e Irene ou o Contrato Social (2000), Grande Prémio de Ficção APE.

A peça de teatro Madame, a partir de Eça de Queirós e Machado de Assis, interpretada por Eunice Muñoz e Eva Wilma, foi encenada por Ricardo Pais, no Teatro Nacional de São João.

Outras obras suas foram adaptadas ao palco, caso de Casas Pardas, também pelo TNSJ, mas desta vez encenado por Nuno Carinhas, em 2012.

Em 1997 foi-lhe atribuído o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora, pelo conjunto da sua obra, que se encontra traduzida em várias línguas.

Em 2002 foi galardoada com o Prémio Camões e em 2013 com o Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. No discurso de aceitação do prémio afirmou: “Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza.

Foi ainda distinguida com a Ordem do Infante D. Henrique (2003) e com a Ordem da Liberdade (2011).

Fonte: DN/Lusa, 23 de maio de 2020

Subscreva a nossa newsletter