Os temas que estudou (o Estado de Ordens, a Igreja Católica em Portugal) foram marcados pela sua originalidade e pelo modo muito próprio de desmontar ideias feitas e simplificações. Quantas vezes em centenas de horas de convívio o víamos ouvir impavidamente os circunstantes e, aparentemente, sem discordância formal, com a sua voz inconfundível, mudava a perspetiva ou os ventos que parecia dominar naquele ambiente. Gostávamos dele assim, capaz de olhar o mundo e a vida do lado das grandes tendências, dos valores permanentes. E, no entanto, nunca precisava de enfatizar este ou aquele aspeto que podia suscitar controvérsia aberta. Só de ouvir os seus argumentos, entre a razão e o sentimento, todos percebiam que a sua perspetiva era o modo inteligente de poder ver as coisas de outro modo. O Luís Filipe foi um grande “scholar”, capaz de se empenhar e de lutar pelos valores éticos em que acreditava. Um dia, era redator em “O Tempo e o Modo”, e os seus colegas escreveram apenas qualquer coisa como: “Neste número, por razões excecionais, Luís Salgado de Matos não pode escrever a sua habitual colaboração”. Naturalmente que a censura cortou. Era a notícia de que tinha sido preso. Com uma coragem serena, sem elevar a voz, com o seu sorriso irónico mas fiel – o Luís Filipe foi um grande amigo, que veio ao Centro Nacional de Cultura (ou ao Centro de Reflexão Cristã) sempre que pedíamos. Sabíamos com que contar. Deixa uma grande saudade e uma grande lembrança.
Guilherme d’Oliveira Martins