Destaque

LIVROS DE 2019

Como habitualmente o Centro Nacional de Cultura apresenta a sua seleção Livros do Ano, sempre esperados ansiosamente…

ROMANCE

A Outra Margem do Mar
de António Lobo Antunes
Edição: Dom Quixote

A Outra Margem do Mar recupera o início da sublevação na Baixa do Cassanje, em Angola.
O romance recai, assim, nos incidentes ocorridos antes da guerra colonial, quando grandes plantações de algodão começaram a ser incendiadas, acontecimentos que foram fulcrais para o desenrolar do conflito.

A Visão das Plantas
de Djaimilia Pereira de Almeida
Edição: Relógio d’Água

Foi ao ler Os Pescadores de Raul Brandão que Djaimilia Pereira de Almeida encontrou a frase que haveria de inspirar anos depois A Visão das Plantas. Raul Brandão fala de personagens que conheceu quando era levado pela mão até ao colégio. Entre eles, estava o capitão Celestino: “(T)endo começado a vida como pirata a acabou como um santo, cultivando com esmero um quintal de que ainda hoje me não lembro sem inveja. Falava pouco. (…) A sua vida anterior fora misteriosa e feroz. De uma vez com sacos de cal despejados no porão sufocara uma revolta de pretos, que ia buscar à costa de África para vender no Brasil. Outras coisas piores se diziam do capitão Celestino… Mas o que eu sei com exactidão a seu respeito é que para alporques de cravos não havia outro no mundo.”

Tríptico da Salvação
de Mário Cláudio
Edição: D. Quixote

Amanuense de um homem de leis velho e respeitado, Hans Kunsperger sempre invejou as amenidades do seu amo. Mas não foi apenas o desejo de delas desfrutar que o levou a tomar a decisão de assassinar lentamente o causídico. Na verdade, a sua maior ânsia consistia em furtar-lhe o sonho por tantos anos acalentado de encomendar um tríptico representando a Crucifixão, a Deposição e a Ressurreição de Cristo para oferecer à igreja onde fora baptizado.
É, pois, este mesmo tríptico que levará Kunsperger até ao estúdio de Lucas Cranach, pintor de créditos firmados e amigo do controverso Martinho Lutero, onde acaba por conhecer os dois filhos do artista, um dos quais terá um papel determinante na conclusão da encomenda que verá muitos sucumbirem antes de ser finalmente entregue.
Com a poderosa imaginação a que nos acostumou, Mário Cláudio, no ano que comemora o seu 50.º aniversário como escritor, oferece-nos, também ele, um tríptico notável de que é impossível afastarmos os olhos.

Autobiografia
de José Luís Peixoto
Edição: Quetzal

Na Lisboa de finais dos anos noventa, um jovem escritor em crise vê o seu caminho cruzar-se com o de um grande escritor. Dessa relação, nasce uma história que mescla realidade e ficção, um jogo de espelhos que coloca em evidência alguns dos desafios maiores da literatura.
A ousadia de transformar José Saramago em personagem e de chamar Autobiografia a um romance é apenas o começo de uma surpreendente proposta narrativa que, a partir de certo ponto, não se imagina como poderá terminar. José Luís Peixoto explora novos temas e cenários e, ao mesmo tempo, aprofunda obsessões, numa obra marcante, uma referência futura.

A Noite em que o Verão Acabou
de João Tordo
Edição: Companhia das Letras

14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos. No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi – uma criança misteriosa – passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.
Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.
Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.
Porque em Chatlam – e neste thriller imparável – nada é o que parece.
O que esconde Levi Walsh?

Um Passo para Sul
de Judite Canha Fernandes
Edição: Gradiva

Um Passo para Sul decorre entre os quatro arquipélagos atlânticos onde se fala português. «No Atlântico moram povos de várias margens. Não têm guelras, já que respiram pouco. Têm labores plácidos, cortinas de água e, às vezes, a imaginação um bocado furiosa.»
O júri considerou Um Passo para Sul um romance com um «alcance humano e social mais profundo». «Os registos linguísticos e imaginativos do crioulo inscrevem-­se criativamente na estrutura global da narrativa, contribuindo para a formatação de uma linguagem literária muito estimulante»; «um romance em que o amor, mas também a violência terrível exercida sobre as mulheres, se constituem em traves mestras do universo existencial das personagens». Se o romance sugere também «esperança e luminosidade, não faz esquecer a contundência psicológica que o estrutura e que a todos nos agride no seu alcance humano e social mais profundo.»

O Café de Lenine
de Nuno Júdice
Edição: Dom Quixote

Neste O Café de Lenine tudo é possível: uma solução ecológica para evitar o fim da imprensa em papel, a reabilitação das baratas a partir de um almoço com Arrabal, a descida ao último círculo do Inferno numa mina de cobre do Chile, onde Lúcifer espera por um subsídio de reintegração social, uma noite com Emma Bovary num quarto do Luxemburgo, Rousseau apontado como exemplo numa conversa entre Guerra Junqueiro e Lenine num café de Berna, a procura infrutífera de combates no campo de Waterloo atrás de Fabrice del Dongo, fugido da Cartuxa de Parma de Stendhal.
Uma obra fora do comum que, atravessando várias épocas, rouba personagens a grandes clássicos da literatura, e combina ficção, crónica, memórias e reflexão.
Um livro para todos os que gostam de ficção em torno de livros e da literatura. Texto muito engenhoso e imaginativo, entre o biográfico e o ficcional onde o narrador-autor reflecte sobre a criação literária e algumas das questões que os escritores se colocam.

O Universo num Grão de Areia
de Mia Couto
Edição: Editorial Caminho

Uma reflexão sobre os grandes problemas de mundo de hoje.
A presente coletânea, a que o autor deu o feliz título de O Universo num Grão de Areia, reúne discursos e artigos de Mia Couto proferidos e publicados nos mais diversos lugares e perante as mais diversas audiências: uma conferência no Estoril, num artigo no jornal britânico The Times, discursos numa Universidade do estado norte-americano de Oklahoma e numa Universidade moçambicana de Maputo, etc. Apesar de toda esta diversidade, o livro apresenta-se-nos com uma grande unidade, assente na atitude de responsabilidade, que o autor nunca abandona, perante os problemas do mundo de hoje. Como já acontecera em E se Obama Fosse Africano, o leitor encontra aqui, apresentada de uma forma muito viva e diferente, uma reflexão sobre os grandes problemas de mundo de hoje.

O Beco da Liberdade
de Álvaro Laborinho Lúcio
Edição: Quetzal

O que é humanamente mais importante: julgar ou compreender?
Um estranho homicídio ocorre numa pacata vila do Norte Interior e a branda pena aplicada ao réu pelo juiz deixa a pairar a dúvida quanto às razões que a terão determinado. Volvidos 50 anos, o mesmo juiz, agora viúvo, reformado e acusado de um crime, recebe em sua casa um jornalista que, tendo escrito a história do homicídio, acredita saber tudo sobre os antigos factos e intervenientes. Porém, a conversa entre os dois homens revelará contornos bem diversos e conduzi-los-á ao eterno confronto entre o bem e o mal, a liberdade e a ética, a consciência e Deus. E o dia do julgamento reservará a derradeira das surpresas.

Grande Sertão: Veredas
de João Guimarães Rosa
Edição: Companhia das Letras

Grande Sertão: Veredas, o único romance e a obra-prima de João Guimarães Rosa, caiu com estrépito no panorama literário brasileiro, em 1956.
Revolucionário na forma – praticamente inventou uma língua nova – e no conteúdo, Grande Sertão: Veredas mudou a literatura e assumiu-se, desde o primeiro dia e ao longo do tempo, como uma das mais importantes obras literárias da língua portuguesa, comparada – na ambição e na universalidade – a obras como Os Lusíadas, Dom Quixote e Fausto.

POESIA

Obra Poética 1948 – 1988
de David Mourão-Ferreira
Edição: Assírio & Alvim

Nos seus livros mais recentes, a poesia de David Mourão-Ferreira parece organizar-se em forma de incursões no seus ciclos anteriores. Mas cada vez mais, no apuro e mestria de uma arte das palavras, ela é a celebração da própria poesia como a síntese impossível (lugar de contrários,conjugação da água e do fogo, simbiose da terra e do ar, convocação de todas as memórias). Ou da poesia como aproximação da música, não uma viagem em busca do sentido anterior e da mátria perdida, nem viagem de exploração e saque, mas viagem em torno de si própria, comemoração nupcial do indiviso.

Existência
de Gastão Cruz
Edição: Assírio & Alvim

No seu novo livro de poesia Gastão Cruz convida-nos para uma poderosa reflexão sobre a vida, a memória, o envelhecimento e o espectro da morte.

GOLPE

Por medo da insónia adio o sono
nas noites em que com um golpe frio
a memória levanta a onda morta
do irrecuperável: o que adio?

Estou deitado num tempo muito extenso
entre a luz e o escuro, estou perdido
entre o imaginado e a verdade
de um mundo sem imagens: o que adio

não é o sono de que temo a falta
nem o sonho feroz nele contido
é a história do corpo percutindo
na fundura impiedosa do vazio

MEMÓRIAS

No Devagar Depressa dos Tempos – Antologia
de Marcello Duarte Mathias
Edição: Dom Quixote

Antologia do que de mais relevante Marcello Duarte Mathias escreveu nos seus Diários. Uma compilação de textos descritos com humor e perspicácia e que nos revelam as riquíssimas vivências de um diplomata e os seus encontros com figuras importantes ao longo da sua carreira.
Como diz Paula Morão, autora do Posfácio da obra: “Trata-se de uma das mais consistentes obras da literatura autobiográfica em português de sempre.”

A Casa de Pedro – Autobiografia
de Pedro Canavarro
Edição: Caleidoscópio

Pedro Canavarro faz parte de uma geração fundamental para o nosso país. O seu relato regista o testemunho de vivências, de acontecimentos e de tempos marcantes para a História Contemporânea de Portugal: do Estado Novo às repercussões do Pós II Guerra Mundial; das lutas académicas de 1962, em Lisboa, às fracturas introduzidas na sociedade portuguesa pelo Maio de 68; da politização emergente do combate ao regime, que se agudiza a partir da 2.ª metade dos anos 60, com a contestação da Guerra do Ultramar, aos ecos da Primavera de Praga, da Guerra do Vietname e do make love not war.
Mas também notícias do activismo político de 1974 e de 1975, da crescente emancipação feminina, da revolução sexual, da vida universitária, o envolvimento na política partidária, a experiência no Parlamento Europeu, o pioneirismo da sua acção cultural, quer internamente, quer no estrangeiro.
Por esta obra passa o homem da esfera pública e o homem privado, cujo cosmopolitismo foi matriz para a assinatura da própria liberdade, no tempo vivido.

ENSAIO

Fernão de Magalhães – Herói, traidor ou mito: a história do primeiro homem a abraçar o mundo
de José Manuel Garcia
Edição: Manuscrito

Entre 1505 e 1512, Fernão de Magalhães fez a primeira metade da sua viagem em torno da Terra, estendendo o braço direito para oriente. O braço esquerdo foi lançado para ocidente entre 1519 e 1521, tornando-o assim no primeiro homem a realizar a viagem de circum-navegação do planeta.
O historiador José Manuel Garcia traz-nos um relato completo desta viagem à volta do mundo, sem esquecer o homem que ultrapassou o estreito que ganhou o seu nome: Estreito de Magalhães. Herói, traidor dos interesses portugueses ou mito, esta personagem, uma das mais famosas da nossa História, tem despoletado grandes questões que aqui se procuram esclarecer.
Dotado de uma tenacidade inabalável e de uma sabedoria na arte de navegar, uniu oceanos e ligou mundos naquilo que foi a origem do processo de globalização que agora vivemos. Baseado numa apurada investigação e consulta de fontes, este livro conta a história de como foi feita a mais difícil, longa e significativa viagem marítima.
Uma proeza que ficou marcada na História da Humanidade.

Uma Beleza que nos Pertence
de José Tolentino Mendonça
Edição: Quetzal

Ao longo de uma obra já volumosa e densa, reunindo ensaio, crónica e poesia, José Tolentino Mendonça escreveu fragmentos notáveis e memoráveis – acerca da presença de Deus, do amor, da solidão e da sua necessidade, dos cinco sentidos, da travessia do deserto, do tempo e da lentidão, mas também sobre a beleza que dá sentido às coisas, e que é nosso dever procurar todos os dias.
Este livro transcreve alguns desses fragmentos, transformados em aforismos, ensinamentos para o dia a dia, perguntas que nos devem inquietar ou levar a escolher um caminho, bem como exemplos dessa procura permanente da beleza e da felicidade.
Uma escrita que oscila entre o poético e o confessional, dirigindo-se diretamente a cada leitor, a cada um de nós, e que busca um caminho ou a luz perdida da comunhão com o infinito.

TRADUÇÕES

Viagens
de Olga Tokarczuk
Edição: Cavalo de Ferro

O coração de Chopin é secretamente levado de volta para Varsóvia pela sua irmã; uma mulher vê-se obrigada a regressar à Polónia para envenenar o seu primeiro amor, moribundo numa cama; um homem começa a enlouquecer quando a mulher e o filho desaparecem misteriosamente, apenas para, do mesmo modo, reaparecerem subitamente — através destas e outras histórias e personagens, brilhantemente relatadas ou simplesmente imaginadas, Viagens explora, ao longo dos séculos, o significado de se ser um viajante, um corpo em movimento, não apenas através do espaço, mas também do tempo.
De onde provimos?
Para onde vamos ou regressamos?
Fascinante, intrigante e de uma originalidade rara, este livro é uma resposta sublime a todas estas questões, uma teia de reflexões que entretece ficção, memória e ciência. Uma exploração profunda sobre o corpo humano, a vida que surge, a morte e o movimento, levando-nos ao âmago do próprio significado de humanidade.

Todas as Almas
de Javier Marías
Edição: Alfaguara Portugal

A jovem professora Clare Bayes atrai o olhar de muitos colegas num jantar da universidade de Oxford. Entre os que a cobiçam está o nosso narrador sem nome, um professor espanhol, desesperado por escapar ao tédio da conversa com um economista obeso.
Claire e o nosso narrador não tardarão a explorar o fascínio mútuo em encontros furtivos em quartos de hotel, longe da vigilância do marido de Claire. Sexto romance de Javier Marías, publicado em 1989, “Todas as almas” inspira-se nos dois anos que o autor viveu em Oxford, como professor de tradução.

Monstros Fabulosos – Drácula, Alice, Super-Homem e outros amigos literários
de Alberto Manguel
Edição: Tinta da China

As personagens literárias que ganham vida e ficam connosco para lá dos livros por Alberto Manguel, um dos maiores bibliófilos do mundo.
Desde a infância, há personagens que começam a fazer parte da vida de quem gosta de ler. Depois, e apesar de nós, os leitores, envelhecermos, e de elas, as personagens, teoricamente ficarem na mesma, vão crescendo connosco, fazendo companhia a outras que surgem e ganhando significado para lá dos livros de onde saíram, como amigos de longa data com quem se partilha experiências, aprendizagens e emoções.
Alberto Manguel, um dos maiores bibliófilos do mundo, apresenta neste livro, com erudição e humor, mais de 30 das suas personagens preferidas: desde o Jim de Huckleberry Finn ao monstro de Frankenstein, passando pela Capuchinho Vermelho ou pela inteligente Phoebe de À Espera no Centeio, e até o Mandarim, de Eça de Queirós. Através desta partilha, desafia cada leitor a explorar as suas relações pessoais com este tipo de «monstros» imortais e amorosos, e com o tanto que cada um deles transporta da condição humana.

O coração de Inglaterra
de Jonathan Coe
Edição: Porto Editora

Ian, Sophie, Doug, Coriander, Benjamin e Colin são algumas das personagens de Jonathan Coe que partilham com milhões de britânicos as tormentas de um país dividido nas primeiras décadas do século XXI.
Quando, em 2010, é eleito um governo sem maioria, os problemas estão só a começar. Seis anos depois, o mundo recebe a estrondosa notícia de que o Reino Unido deixará a União Europeia em resultado do referendo que inscreveu a palavra Brexit na História. Mas, em 2018, a confusão continua, assim como as negociações infrutíferas que só aumentam a impaciência e o descontentamento de todos.
O Coração de Inglaterra evoca oito turbulentos anos da vida britânica e o seu reflexo na vida dos cidadãos. Ian e Sophie são recém-casados que veem a relação tremer devido às diferenças políticas; aos 14 anos, Coriander encontra na rebeldia e nas escaramuças que assolam Londres uma forma de lutar por maior justiça social; Colin tem como última vontade poder votar no referendo que afastará o país da União Europeia e – em teoria – devolvê-lo ao que foi no passado; Benjamim, o filho, só quer ficar à margem dos acontecimentos e poder escrever. Pelo meio, o leitor assiste ao significativo aumento das atitudes xenófobas como consequência do declínio da indústria e da diminuição do número de postos de trabalho.
Neste romance, através de uma prosa clara e muito divertida, Jonathan Coe representa de modo magistral os estranhos tempos em que vivemos, mas sobretudo as marcas profundas que deixam nas pessoas.

A todos desejamos um Bom Ano, com Saúde e boas leituras!

Subscreva a nossa newsletter