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José-Augusto França (1922-2021)

José-Augusto França, antigo Presidente do Centro Nacional de Cultura e nosso sócio honorário, faleceu hoje em Jarzé (França).

O mais reconhecido dos historiadores de Arte portugueses contemporâneos soube aliar a análise cuidada e aprofundada da criação cultural e artística ao contexto social e económico. A leitura das suas obras constitui, assim, uma oportunidade rara de conhecimento dos temas que tratou, desde a reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto até à exaustiva análise da Arte portuguesa dos séculos XIX e XX, uma vez que relaciona a sociedade e a vida, vendo a história como um conjunto global e compreensivo, tornando a sua apresentação apaixonante. Não é possível estudar qualquer um destes temas sem o conhecimento da completa investigação realizada pelo Professor França, que é indubitavelmente a mais exaustiva e esclarecedora que se conhece sobre a matéria.

Natural de Tomar, no Ribatejo, cidade sobre a qual publicou uma monografia, José-Augusto França doou parte do seu espólio de obras de arte ao Museu Municipal, constituindo o Núcleo de Arte Contemporânea.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1944, José-Augusto França, como bolseiro do Estado francês, em 1959, estudou na Universidade de Paris-Sorbonne, até 1963, tendo trabalhado, entre outros, com o historiador Pierre Francastel (1900-1970). Em Paris, doutorou-se em História, em 1962, com a tese “Une Ville des Lumères: la Lisbonne de Pombal”, e em Letras, em 1969, com a tese “Le Romantisme au Portugal”.

Quando o historiador foi solicitado a pronunciar-se sobre a classificação da «Lisboa Pombalina», em 1967, no âmbito da ação do Município de Lisboa, considerou a necessidade de compreender o movimento histórico que corresponde ao surgimento da moderna cidade de Lisboa reconstituída sob a orientação de Sebastião José da Carvalho e Melo e da sua esclarecida equipa. Daí a proposta de alargamento da zona a classificar, considerando a abertura da Avenida da Liberdade, nos anos oitenta do século XIX, quando se rompeu o espaço confinado do Passeio Público.

A noção de preservação dos bens culturais, do património, dos conjuntos urbanos e da memória é hoje considerada, na senda do entendimento pioneiro de José-Augusto França, num sentido amplo e integrado em nome da qualidade e da fidelidade histórica. Não sendo a cidade uma realidade isolada, uniforme ou momentânea, há que considerar ainda os núcleos que a complementam, como os de raiz rural, que contribuem para a definição da identidade da cidade.

No Centro Nacional de Cultura não esquecemos o contributo inestimável de José-Augusto França, como presença constante nos Passeios de Domingo, com Helena Vaz da Silva, nos roteiros, nos debates e na ação em prol do património português no mundo. Aqui albergámos, graças à sua iniciativa, o Mestrado de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, o que nos enche de especial orgulho.

Ao analisarmos tudo o que publicou, numa obra muito rica e multifacetada, temos de saudar o pensamento pioneiro de José-Augusto França e a sua lucidez prospetiva. Percebemos que estamos perante um entendimento vivo da Cultura. Dirigiu a delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian e dirigiu a revista “Colóquio Artes”.

Saudamos a sua memória e enviamos à sua família sentidas condolências.

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