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JOÃO BÉNARD DA COSTA – O CNC ESTÁ DE LUTO

A morte de João Bénard da Costa é uma perda irreparável. É uma referência insubstituível no panorama cultural português.

O Centro Nacional de Cultura está de luto. João Bénard da Costa é uma perda irreparável. É uma referência insubstituível no panorama cultural português. Era um homem de talento e sabedoria.


Foi com António Alçada Baptista uma das almas da revista “O Tempo e o Modo”, que teve uma importância crucial na preparação da democracia e na abertura de horizontes na nossa vida literária e artística. Foi dirigente activo do Centro Nacional de Cultura e da Associação para a Liberdade da Cultura, sobretudo na passagem dos anos sessenta para setenta, e muito lhe devemos por isso. E nos últimos anos continuou a dar-nos um apoio generoso e permanente. A sua presença continuará, por isso, muito viva para todos nós. Foi um grande escritor. A Cinemateca Portuguesa foi a sua paixão. Legou-nos aí um trabalho fundamental.


A melhor homenagem que lhe devemos é não esquecer os seus projectos ligados à aproximação do público em relação à história do cinema, que se confunde com a história do mundo no último século. Os seus textos sobre literatura e sobre as artes são referências. Era um grande amigo.

Publicamos aqui dois textos lidos por Alberto Vaz da Silva nas missas em sua intenção.



“Supermundane”


Sabemos como é essencial a alegria da vida. Não é só um remédio que cura; é também o melhor caminho para a relação com Deus. De onde nasce este sentimento estimulante, chamado a alegria da vida? Não vem da fortuna nem da auto-satisfação e muitas vezes surge entre as mais graves dificuldades e perseguições. Em tempo de tensão, a alegria é especialmente valiosa e curativa. Chamamos-lhe a alegria de Ser-se porque não depende de circunstâncias pessoais, do sucesso ou do lucro. Não tem razões terrenas; chega como precursora de mais altas correntes que espiritualizam toda a atmosfera envolvente.


Pode haver sentimentos de alegria quando se está aflito com a doença ou quando se é vitima de injustiça ou insultos ? Sim, mesmo em tais circunstâncias os olhos podem por vezes encher-se de fogo, a cabeça caída pode erguer-se e experimentar-se uma força nova. Então começaremos a regozijar-nos com a vida, talvez não com a nossa vida, mas com o Ser-se.

Que pensamentos fortes acorrerão àqueles que se apercebem da alegria de Ser-se ! A atmosfera à sua volta será purificada, os que se aproximarem sentirão alívio, pois cada preservação de energia é benevolente.

Todos os que procuram deveriam lembrar-se da alegria da vida. Não é preciso inventar razões científicas especiais para tal alegria; ela chega através do coração e é absolutamente real.

Por vezes Cristo reunia os Seus discípulos para um Festival de Alegria. Apenas eram servidos água e pão. E o Senhor dizia : “não vamos manchar a alegria com vinho e alimentos ricos. A Alegria está acima de tudo”.


Agni Yoga Series,
“Supermundane”, Livro II, “The
Inner Life”, 281. 1938.
Tradução de Alberto Vaz da Silva


Leaves of Morya’s Garden



Ouve !
Porque quero que te aproximes de Mim
Cheio de alegria e resplandecente
No dia de Grande Escuridão


É verdade –
Confiei-te muito,
Dei-te datas e avisos.
Outorguei-te a possibilidade da vitória.
E revelei-te
Os segredos das Nossas Decisões.


Podes conquistar e atingir a iluminação,
Mas faz-Me a tua oferta.


Se tens medo,
Dá-Me o medo


Se tens dúvida,
Dá-Me a dúvida


Se tens zanga
Dá-Me a zanga


E se Me deres uma mão cheia
De objectos triviais
Também aceitarei esses brinquedos de pó
para a Minha Torre.


É verdade que se na vida quiseres tornar
a usar o que ofereceste
não te esqueças do valor real
De quem tira o que tinha dado


Portanto, aceitei o medo e a dúvida
E a zanga – são para Mim.
E para ti é o caminho para a Luz.
Porque quero que te aproximes de Mim
Cheio de alegria e resplandecente


No dia da Grande Escuridão –
antes do Nascer do Sol.


Agni Yoga Series,
“Leaves of Morya’s Garden”,
1924, Livro I, 371.
Tradução de Alberto Vaz da Silva



 


 


 


João Bénard da Costa no Congresso Internacional Eduardo Lourenço
 
Cinema
João Bénard da Costa


O seu nome confunde-se com o cinema: João Bénard da Costa nasceu a 7 de Fevereiro de 1935, em Lisboa e exerceu, desde 1980, cargos de direcção na Cinemateca Portuguesa. Morreu  aos 74 anos.

Ainda antes de 1980, na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1961, foi responsável pelo sector do cinema do serviço de Belas Artes da instituição.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1959, com a dissertação Do Tema do «Outro» no Personalismo de Emmanuel Mounier, Benard da Costa foi convidado por Delfim Santos para seu assistente naquela faculdade.

A carreira académica foi-lhe impedida, por força da PIDE. Veio a leccionar disciplinas de História e Filosofia, no Seminário Menor de Almada, no Externato Frei Luís de Sousa da mesma cidade, no Liceu Luís de Camões e no Colégio Moderno, entre 1959 e 1965.

A paixão do cinema marcou-o desde cedo. Entre 1957 e 60 foi dirigente cineclubista, ao mesmo tempo que presidiu à Juventude Universitária Católica.

Fundador da revista “O Tempo e o Modo”, o nome de Benárd da Costa fica também marcado pela presença constante na imprensa. No jornal “Público” chegou a desabafar numa crónica que “passou mais de metade da sua vida no ofício de cronista”.

Começou no “Expresso”, com Helena Vaz da Silva, mas depois mudou-se para o “Diário de Noticias” onde assinou uma coluna chamada “O mal pelas aldeias”. Em 1988 mudou a sua prosa para o jornal O Independente”, onde Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso lhe pediram para escrever sobre “Os filmes da sua vida”.

A paixão pelo cinema levou-o também a representar, não só em filmes de João César Monteiro, como em filmes do seu amigo Manoel de Oliveira.

Laureado com o prémio Pessoa em 2001, João Benard da Costa, recebeu das mãos de Mário Soares a ordem do Infante D. Henrique. Também França lhe atribuiu a comenda de Officier des Arts et des Lettres.

Com diversos livros publicados, destacam-se as monografias de Alfred Hitchcock ou John Ford. Mas Bénard da Costa assinou também títulos como “Nós, os vencidos do Catolicismo”, em 2003.

Na Renascença fez parte, até ao final de 2008, juntamente com Manuel de Lucena, João César das Neves e Francisco Sarsfield Cabral, do painel residente do programa “Com Sal & Pimenta”, de comentário crítico e mordaz da actualidade.


>> Uma vida cheia de filmes
João Bénard da Costa faleceu aos 74 anos. Viveu fascinado pelo cinema, foi actor, escritor e divulgador da sétima arte. Na Renascença participou no programa “Com Sal & Pimenta” até finais de 2008. Peça de Maria João Costa.


in Rádio Renascença

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