A Universidade Aberta (UAb) organizou no dia 21 de setembro de 2016, pelas 15h30, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, a Cerimónia de atribuição do Grau de Doutor Honoris Causa ao Dr. Guilherme d’Oliveira Martins.
Com a atribuição do mais importante grau honorífico, a UAb reconhece o extenso currículo, nacional e internacional, do homenageado, enquanto servidor da causa pública.
A UAb realça, na fundamentação da sua decisão, o facto de o homenageado ter assumido sempre, alicerçado num pensamento próprio e avançado, a pertinência do ensino público como instrumento e prática de democratização e desenvolvimento social.
O professor doutor Carlos Reis fez o elogio e o professor doutor Roberto Carneiro a apresentação.
Aceda ao programa da cerimónia.
Aqui se publica a intervenção do Dr. Guilherme d’Oliveira Martins nesta ocasião:
«A Universidade de hoje deve saber aliar a compreensão das raízes e o conhecimento perene da humanidade com a capacidade inovadora – não só para seguir as transformações científicas, técnicas, sociais, económicas e culturais, mas também para poder antecipar novos caminhos e para compreender a incerteza e o que Bernardo Soares designa como desassossego. Eis por que razão falar de capacidade criadora significa perceber que o processo do cientista é em tudo semelhante à força do artista. Os dois processos encontram-se, apesar de existir a tentação de os considerar diversos e separados, o que constitui um erro em que comummente se incorre. O caso de Leonardo da Vinci é significativo. Aí encontramos as duas tendências reunidas na mesma personalidade fascinante, o que nos permite entender que em momentos de criatividade extraordinária a capacidade humana é capaz de seguir diversos caminhos e apressar-se na busca e encontro do conhecimento. E se falamos das raízes e do conhecimento perene da humanidade, lembramos o fecundo diálogo entre o trivium e o quadrivium, em que a ciência, a cultura, a arte, a educação, a economia e a sociedade se encontram naturalmente. E assim a cultura científica deixa de ser vista como compartimentada entre duas culturas, antes se baseando numa sã complementaridade, especialidade e interdependência. A complexidade obriga à cooperação e ao espírito de equipa. O diálogo cultural e científico é o grande desafio contemporâneo. A lógica, a gramática e a retórica, do trivium, nas antigas artes liberais, projetam-se naturalmente na aritmética, na música, na geometria e na astronomia, do quadrivium. E veja-se como o desafio contemporâneo é, afinal, o estímulo duradouro em que, no entanto, e cada vez mais, as antigas artes mecânicas se tornam interdependentes do pensamento e da capacidade criadora. Quando a música e a poesia se aproximam e se integram no pensamento científico são a complexidade, a diversidade, o conhecimento, a compreensão que melhor se podem entender. E assim prudência e arte se articulam com a ciência e a sabedoria. A prudência como pensamento coerente e humano, das pessoas para as pessoas, e a arte como pensamento aplicado ao saber fazer. Quando Charles Percy Snow falou em Cambridge do «abismo da incompreensão mútua» acusou os dois lados de falta de lucidez. «Já reparou como a palavra “intelectual” é usada hoje em dia?» O matemático Hardy sentia-se, assim, excluído do conjunto do conhecimento… Como se a complexidade fosse uma quimera ou uma ilusão… Que bizarra essa perigosa separação! Como se Pico della Mirandola não tivesse existido… A Universidade de hoje está, assim, confrontada com o poderoso desafio da cultura científica capaz de ligar complexidade, rigor e diálogo entre saberes, E uma Universidade Aberta encontra-se na linha da frente deste exigente compromisso. (…).
A Universidade Aberta deve ser encarada como um dos catalisadores relativamente a um novo tipo de serviço público – o serviço público da língua portuguesa no mundo. A vocação própria da Universidade deve assim constituir-se um fator de enriquecimento: do sistema de educação permanente, da rede do ensino superior, do serviço público de comunicação social, do desenvolvimento das novas tecnologias de informação e das culturas da língua portuguesa, da comunicação, da cultura científica, do desenvolvimento humano e da afirmação global. Ora, é de uma partilha de responsabilidades que falamos, de que todos serão beneficiários. Eis por que razão temos de considerar uma instituição como a Universidade Aberta como uma peça crucial na Universidade portuguesa…»
Guilherme d’Oliveira Martins