Exposição comissariada por Helena de Freitas e Ana Marques Gastão, cuja ideia nasceu de um projeto conjunto com o CNC que tem como objetivo revelar os cruzamentos múltiplos do universo da artista com a escrita, seja a poesia, a ficção – romance, novela e conto -, a autobiografia ou o teatro.
A exposição vai apresentar principalmente desenhos datados de 1982 a 2016, procurando focar alguns dos principais temas da obra de Graça Morais, como a identidade do lugar onde nasceu – a aldeia do Vieiro, em Trás-os-Montes. Nesta terra longínqua, marcada pelo clima rude e a crueldade da distância, do abandono e da pobreza, Graça Morais encontrou uma iconografia sem igual para expressar a sua representação do mundo, na sua visão de mulher e artista.
O diálogo entre a pintura e a literatura revela-se uma característica marcante da obra da artista, que desde sempre mostrou ter o dom de convocar o território do livro e das palavras para o contexto da produção artística portuguesa, atraindo autores e poetas como Miguel Torga, Nuno Júdice, José Saramago, Vasco Graça Moura, Agustina Bessa-Luís, Maria Velho da Costa, Pedro Tamen, Sophia de Mello Breyner e Manuel António Pina. É nesta articulação com a literatura e outros saberes que “a obra da artista forma um corpo em metamorfose que sublinha a natureza efémera de um ser interior afetado por uma mudança contínua”. É, aliás, segundo Ana Marques Gastão, “a metamorfose – mais evidente nos desenhos com Sophia e Agustina – que transporta o fio de Ariadne nesta exposição de Graça Morais – a do ser humano em exílio, do artista e do escritor, do criador que, ao realizar o movimento proibido do olhar, transpõe o interdito: o desejo, a paixão, a ilusão, o inferno de Dante”. A dureza e a sensibilidade da vida surgem aqui representadas num “quase paradoxo de complementaridades”, sublinha Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação, traduzindo a “relação íntima e especial” que se estabelece entre a Arte e a Natureza.
Daí se entende também o título da exposição, contrapondo a violência e a graça. “A sua pintura não deve ser entendida como um conto de fadas, mas como um lugar onde a violência natural da condição humana se confronta com a possibilidade de a ela fugir por um milagre a que chamamos ‘graça’, afinal o nome da artista”, afirma o crítico e ensaísta Eduardo Lourenço, em entrevista à curadora Ana Marques Gastão.
A obra de Graça Morais, nascida em 1948, é vasta, diversa e multifacetada, estendendo-se desde os anos 70 até hoje. Em 1971, a artista transmontana concluiu o curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, tendo sido aluna de Ângelo de Sousa, cuja obra esteve também exposta na delegação de Paris entre janeiro e abril deste ano. Entre 1976 e 1978, viveu na capital francesa como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e, em 1978, expôs no Centro Cultural Português de Paris.
:: Colóquio Internacional
“Graça Morais. Le mythe et la métamorphose”
No âmbito da exposição, a Fundação Gulbenkian – Delegação em França recebe o colóquio internacional, que terá lugar nos dias 6 e 7 de junho.