Foi membro ativo na renovação do catolicismo internacional da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), é um dos teólogos de contribuição mais original na renovação da teologia moral na Igreja portuguesa no pós-Concilio Vaticano II. Licenciou-se em Direito em 1956, ano em que ingressou na Ordem. Como dominicano, estudou em Fátima e em Otava (Canadá). Foi ordenado presbítero em 1962.
Pertenceu, com efeito, a uma geração de católicos que, marcada por preocupações políticas e sociais, constituiu uma referência obrigatória na década de cinquenta-sessenta em Portugal. João Bénard da Costa retrata-a do seguinte modo: «Na JUC, entre os ‘contestatários’ havia dois ramos distintos: o dos ‘sociólogos’ (mais bem ‘comportados’ e menos ‘intelectuais’) e o dos ‘vanguardistas’, quer em posições políticas, quer no interior da Ação Católica, quer numa predominante atenção aos fenómenos estéticos mais inconformistas. Esses eram (éramos) (…) o Nuno Peres (já então Frei Mateus Cardoso Peres OP), o Nuno Portas, o Nuno Bragança, o Luís Sousa Costa, o Pedro Tamen, o Alberto Vaz da Silva, o M.S. Lourenço, o Cristóvão Pavia, o José Escada, o Manuel de Lucena, o José Domingos Morais, o Duarte Nuno Simões – o Mário Murteira e o Carlos Portas eram a charneira entre os dois grupos» (João B. da Costa, «Meus tempos, meus modos» in Diário de Notícias, «Revista de Livros», 9/11/83,1).
Com alguns entusiastas desse grupo, Frei Mateus C. Peres participou na criação do CCC (Centro Cultural de Cinema – Cineclube de Universitários para uma Cultura Cinematográfica Cristã), que teve o seu início em novembro de 1956.
Colaborou em O Tempo
e o Modo: Revista de Pensamento e Ação – importante espaço de diálogo e confronto
de diferentes sensibilidades culturais, políticas e religiosas -, tratando do significado
histórico e impacto do Concilio Vaticano
II (1963-1965) no «agiornamento» interno
da Igreja e na sua relação com o mundo contemporâneo. A problematização teológica
introduzida em Portugal por Frei Mateus nos seus estudos «A Igreja entre Duas Guerras
(TM,16-17,1964), -“Tradição e Progresso
”(TM,18,1964), “A 4ª Sessão: O Concílio
e a lgreja”» (TM,32,1965) – é hoje considerada pelos analistas dessa época como
um contributo único para a compreensão da novidade doutrinal e pastoral do Vaticano
II (cfr.tese de licenciatura em Teologia de Nuno E. Ferreira in Lusitania Sacra, 2ª série ,6, 1994, pp. l29/294).
O recurso ao pseudónimo Manuel Frade, com que assinou o último destes artigos, revela
as dificuldades e limitações que existiam na Igreja portuguesa, então à margem desse acontecimento mundial.
Fez parte da primeira direção internacional da famosa revista teológica Concilium, editada em português pela Livraria Morais Editora (1965), devido ao empenhamento de A. Alçada Baptista. Era esta a forma de Portugal e o Brasil terem acesso à grande renovação teológica pós-conciliar.
Pertenceu ainda à equipa que, no âmbito das atividades dessa revista, lançou entre nós os «Colóquios para Assinantes», destinados sobretudo a equacionar as questões da Igreja portuguesa à luz de um Concilio por ela praticamente ignorado. Frei Mateus C. Peres dedicou a sua vida à renovação da teologia moral na investigação e no ensino.
A partir de 1963, no «Studium Sedes Sapientiae» dos dominicanos, em Fátima; de 1967 a 1972, em Otava; depois no Porto, no ISET, ICHT, finalmente, na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, na sua sede do Porto e, mais tarde, em Lisboa.
Ocupou vários cargos de relevo na sua Ordem: provincial dos Dominicanos Portugueses de 1977 a 1985, assistente para a Vida Intelectual em toda a Ordem de 1989 a 1993 e provincial, de novo, de 1993 a 1997.
É autor de alguma colaboração em obras coletivas e de inúmeros estudos na área da teologia moral, em revistas como Humanística e Teologia, Communio (v. portuguesa), Cadernos Ista e outras. Muito apreciado como professor e conferencista, investigou as razões históricas e teóricas que contribuíram para a «má reputação da moral» (sic). Ao fazer da ética uma construção do sujeito – em «uma visão teológica que faça justiça ao sujeito» -, deu um contributo decisivo para a superação de dois persistentes dilemas da teologia e filosofia moral, subjetivismo/objetivismo e autonomia/teonomia. Esta proposta encontra-se na sua obra fundamental, apresentada como tese de doutoramento em 1987, O Sujeito Moral: Ensaio de Síntese Tomista, 1992.
por Luísa Cabral