A sala do Cinzeiro 8 do Museu da Eletricidade acolhe a escultura de Inês Botelho, Do Cimo, um Ciclo e a instalação literária de Diogo Vaz Pinto, Terra Besta.
As duas obras surgem na sequência de uma viagem dos dois artistas à Índia. Inês Botelho e Diogo Vaz Pinto não se conheciam quando, em 2014, na viagem que percorreu as cidades de Goa, Damão, Diu, Baçaim e Bombaim, com o Centro Nacional de Cultura e o apoio da Fundação EDP.
A escultura de Inês ocupa o espaço como uma paisagem tátil onde a força da natureza tropical e a cultura do sagrado coabitam, sobrepondo-se uma à outra, sem hierarquia. A rudeza desta paisagem e a sua força opõem-se e complementam-se às referências sagradas e divinas.
O trabalho de Inês Botelho incorpora e subverte conceitos elementares e universais de espaço (concretamente da Física e da Geometria – gravidade, perspetiva, orientação, tempo). Tendo como princípio que espaço e habitante são ambos tão dinâmicos como fixos; as Esculturas/Instalações são espaços personificados, os espetadores/transeuntes são “espacializados” e suas interações são proporcionadas com base numa crença e motivação por uma qualquer hipotética possibilidade de alteração de paradigmas.
Terra Besta é uma instalação com excertos do diário de viagem de Diogo Vaz Pinto à Índia, na voz de Inês Meneses.
Um sino toca sobre o caminho, lembra aos vivos os passos dos mortos. Leva-os por um momento confusos, desorientados, rindo, trôpegos. O som tem uma história, viu coisas, e inutilmente faz por descrevê-las. A rua que lhe deixaram foi ficando sem nada para ver. De longe em longe algum aviso para assustar o vazio, a imensidão que parece sufocar a vista. Campos crepitando num rumor de distâncias mortíferas. A natureza com o seu visco cobrindo, enchendo cada segundo deste espaço, uma eternidade sujeita à doença cíclica das estações. A selva bêbeda das monções, devoradora de homens. É doloroso ver este sino caído, ouvi-lo rastejar, bater-se por mais uns círculos, um ouvido. Ter descido da altura orgulhosa do campanário a este chão que já não leva nem trás – chão de enterro –, e senti-lo suplicar enquanto tudo ao redor o ignora, ou, até, despreza. A natureza não quer saber as horas, e deus não lhe interessa. Tudo o que o tempo para ela é uma tamanha fome, sede, que se tornam ensurdecedoras.
Diogo Vaz Pinto
BIOGRAFIAS
Inês Botelho estudou em Lisboa e em Nova Iorque: na Faculdade de Belas Artes, no Ar.Co e, no Hunter College. Expõe desde 1998.
São de referir os projetos individuais: O espaço diz à matéria como se mover e a matéria diz ao espaço como se curvar, em 2014; Presença Inflectida, 2011;Resistência e Desistência, 2008; Inês Botelho, 2005 (qualquer dos quatro na Galeria Filomena Soares); Náufrago, no Laboratório de Curadoria, Guimarães 2012; Rotação e Inflexão, uma colaboração com o compositor Diogo Alvim, nos Espaços do Desenho, em 2010; Lugar Falhado, no Pavilhão Branco, em 2008; El Original Espacio Social, no Matadero Madrid, em 2007; Trade-off/Gravidade e Graça, na Casa d’Os Dias da Água, em 2007; Inês Botelho, na ZDB, em 2005.
Das suas participações nas exposições coletivas, destacam-se: A Natureza ri da Cultura (Museu da Aldeia da Luz), Fronteiras (Óbidos), Linhas Invisíveis (Torres Vedras), Sítio das Artes (Centro de Arte Moderna, Gulbenkian), Metaphysics of Youth – Fuoriuso (Pescara, Itália), Europart (Viena e Salzburgo), Migrations (Fundación Boti, Córdova, Espanha), Sines Local (Centro Cultural Emmerico Nunes, Sines), Dinamia(Pêssego prá semana, Porto), Conflux Festival (Brooklyn, NY), MFA Thesis Show(Hunter College-Times Square Gallery, NY), EDP Novos Artistas (Serralves, Porto),Veneer /Folheado (Catalyst Arts, Belfast), Inês Botelho/Mário Cordeiro (Sala do Veado), 46 Salon de Montrouge (Montrouge), Gotofrisco (ZDB e Southernexposure, São Francisco), Inmemory (ZDB) e T9 (ZDB).
Entre outras, o seu trabalho está representado nas coleções: Fundação EDP; Portugal Telecom; Arquipélago; Fundação PLMJ; MAK, Viena; Fundação Leal Rios; Associação Nacional de Jovens Empresários; ANACOM; António Cachola; Zé dos Bois; Pedro Cabrita Reis.
O trabalho de Inês Botelho incorpora e subverte conceitos elementares e universais de espaço (concretamente da Física e da Geometria – gravidade, perspetiva, orientação, tempo). Tendo como princípio que espaço e habitante são ambos tão dinâmicos como fixos; as Esculturas/Instalações são espaços personificados, os espetadores/transeuntes são “espacializados” e suas interações são proporcionadas com base numa crença e motivação por uma qualquer hipotética possibilidade de alteração de paradigmas.
Diogo Vaz Pinto (n. 1985, Lisboa) poeta e jornalista, estudou Direito em Lisboa, publicou três livros (Nervo, Bastardo e Anonimato) e escreve para o semanário Sol e o diário i. na área de cultura. É cofundador das Edições Língua Morta, com mais de 60 livros publicados.
Ateliers
Histórias de sons
Atelier de sons, ruídos, barulhos!
Domingos 13 de Março 3 de Abril e sábado 2 abril > 11h00
Visitas
Visitas à exposição Havia um sino no meio da estrada
11 de março a 22 de maio
Workshops
Esculturas escritas em papel
Sábados 30 abril 7, 14 maio > 10h00
Lançamento do livro
Dia 17 de maio [3ª feira] às 18h30 na Sala do Cinzeiro 8
Com as intervenções de Guilherme de Oliveira Martins, José Manuel dos Santos, Inês Botelho e Diogo Vaz Pinto.