É reconhecimento da obra de Eduardo Lourenço como fundamental, no seu sentido crítico, para a compreensão de Portugal, como cultura e identidade aberta. É homenagem, na medida em que Vasco Graça Moura, na sua expressão multifacetada, sempre deu ao pensamento do ensaísta de «Nós e a Europa ou as Duas Razões» uma especial importância, como intérprete de quem somos enquanto vontade e recusa de um qualquer fatalismo desistente. Lembramo-nos do modo como Graça Moura se empenhou e conseguiu que o Prémio Europeu de Ensaio fosse atribuído ao pensador português. Daí esta ligação natural e justa. Eduardo Lourenço segue os passos da Geração de 70 demarcando-se da religiosidade tradicional, e de um sentimento universal, notados em Fradique Mendes e depois na galáxia Fernando Pessoa e no modernismo. Nesta ligação, o ensaísta assume grande originalidade ao articular (como antes ninguém fizera) as Conferências Democráticas e o Orpheu. «A história e o destino de Portugal nunca foram trágicos fora da tragédia adiada que a vida é. Também não o são agora. Pela primeira vez, o nosso país vive-se a si mesmo e começa até a ser visto pelos outros, como um povo insolentemente feliz». Lourenço falou, por isso, de «maravilhosa imperfeição», como marca indelével de Portugal. Nem contentamento nem desconcerto, do que se trata é de procura de um sentido emancipador. Perante as nuvens negras da crise, o seu tema é o da vontade, que supere uma ciclotimia antiga. O tema de Portugal como Destino está de pé. Longe dos mitos da glorificação ou do pessimismo são urgentes a liberdade e a vontade! Afinal os mitos obrigam a ter deles uma leitura exigente e crítica.
Guilherme d’Oliveira Martins