Depois do estudo sobre a história e o pensamento do MRAR [*], João Alves da Cunha oferece-nos neste volume o acesso a algumas fontes literárias, cinquenta textos de membros deste movimento, datados de 1947 a 1970. O livro é de grande valor e importância: primeiro, porque são textos dispersos por revistas especializadas que agora podem ser lidos em conjunto; depois, porque documentam o período de maior frescura e profundidade da reflexão sobre a arquitetura religiosa moderna em Portugal, antecipando e prolongando as orientações do Concílio Vaticano II; finalmente, porque, passados mais de 50 anos sobre o último dos textos, conservam grande atualidade e urgência. Este último aspeto deve interpelar-nos. Do ponto de vista da arquitetura religiosa moderna, a reflexão deslocou-se tendencialmente para a universidade e mantém-se em geral mais afastada da prática da arquitetura e da vida cultural e diocesana, pelo que as obras de grande qualidade se tornam muito raras. Também do ponto de vista religioso, os ventos são outros, o desejo de novos e melhores tempos para a vida da Igreja e a sua expressão artística nas comunidades cristãs e na cidade deu tendencialmente lugar à nostalgia do passado e ao medo da abertura e da mudança. É por isso refrescante ler numa entrevista com Nuno Teotónio Pereira, de 1959: “embora se tenha de vencer a resistência da rotina e do comodismo, nós [Movimento de Renovação da Arte Religiosa] caminhamos no mesmo sentido em que se opera a própria renovação da vida cristã”. Afirmação aparentemente intuitiva, proveniente de um arquiteto, mas de grande profundidade teológica.
Excerto da introdução, por Pe. João Norton de Matos, sj
[*] MRAR, Movimento de Renovação da Arte Religiosa, Os Anos de Ouro da Arquitetura Religiosa em Portugal, Lisboa, UCP, 2015