O Fialho de Almeida tinha uma espécie de amor-ódio por ele e estava sempre a meter-se com ele, por não ter obra e por desperdiçar o seu talento em linguados de jornal…
– Oh! Gualdino estou a ver os nossos netos a lerem as tuas obras completas…
O Gualdino, calado, ouvia, ouvia, e ia enchendo o saco. A certa altura, não se continha e rebentava. E lembrava-se de que o Fialho casara tarde e rico no Alentejo.
– Oh Fialho, diz-me aí as horas no relógio do teu sogro…
Outra vez, foi na estreia do «Tamar» do Alfredo Cortez, no Teatro Nacional, que se passava numa praia, com o cenário do mar ao fundo. Iam chegando os pescadores, com a mão na testa, em forma de pala, e passavam da direita para a esquerda no palco, olhando o horizonte, numa estranha marcação. Passou o primeiro, passou o segundo e, quando passou o terceiro, o Gualdino levanta-se e diz:
– Ele há qualquer coisa e é ali para o Intendente… Vou lá ver…
DIÁRIO DE AGOSTO
por Guilherme d’Oliveira Martins
28 de agosto de 2017