Reflexões

De 7 a 13 de Março de 2005

Sessenta anos! Eis a vida que já leva o Centro Nacional de Cultura. Desde 13 de Maio de 1945 até hoje houve um longo caminho percorrido. Afonso Botelho, António Seabra e Gastão da Cunha Ferreira fundaram-no como ponto de encontro e de reflexão.

REFLEXÃO DA SEMANA
De 7 a 13 de Março de 2005


Sessenta anos! Eis a vida que já leva o Centro Nacional de Cultura. Desde 13 de Maio de 1945 até hoje houve um longo caminho percorrido. Afonso Botelho, António Seabra e Gastão da Cunha Ferreira fundaram-no como ponto de encontro e de reflexão. Fernando Amado e Almada Negreiros participaram desde o início no projecto, primeiro sedeado no Largo de S. Roque, que cedo promoveu uma “Exposição de Arte Moderna” e um leilão de quadros para angariação de fundos. Logo em 1946, nasceu o grupo de teatro, que levou à cena “A Caixa de Pandora”, sob a direcção de Amado e com representações no Teatro Ginásio. Rui Cinatti, Vasco Futcher Pereira, Raul Feio, entre outros, foram os actores. Houve diálogos sobre a arte, com Amado e Almada. Francisco Sousa Tavares foi, desde muito cedo, o iconoclasta. Contra as tentações transpersonalistas, contra todo o conformismo, foi ele quem primeiro definiu o Centro como um lugar em que liberdade e cultura tinham de andar a par. Rua da Horta Seca, Rua do Ataíde, Rua do Loreto foram as sedes do CNC, presidido ainda por João Camossa Saldanha e depois por Gonçalo Ribeiro Telles. Chegam os estatutos definitivos de 1952. Sob a direcção de José Fernando Martins de Carvalho, em 1953, chegamos à António Maria Cardoso, 68. Afonso Botelho, Delfim Santos, Gabriel Marcel realizam conferências sobre a saudade, a filosofia actual e o existencialismo cristão e, à falta de cadeiras, usam cestos de vime… Em 54 o grupo de teatro transforma-se na Casa da Comédia. Sousa Tavares marca decisivamente o CNC, num sentido personalista e constitucional. Aqui se reúnem os fundadores de “57”, cultores da filosofia portuguesa (Marinho, Álvaro Ribeiro, Botelho, Orlando Vitorino e António Quadros). Os assaltos de Carnaval fazem furor. Dos debates monárquicos, bastante acesos, passa-se à indignação pelo exílio do Bispo do Porto, depois da Carta a Salazar de 1958, e à reflexão sobre o “dever social dos cristãos”, em que pontua António Alçada Baptista. Henrique Martins de Carvalho, com inteligência e abertura de espírito, será durante longo tempo o Presidente da Assembleia-Geral, garante e penhor do “bom comportamento” do Centro… As guerras de África, as crises académicas, o Concílio Vaticano II, o fecho da Sociedade Portuguesa de Escritores vão pôr o Centro no coração do inconformismo e das heterodoxias. Surge no final de cinquenta o Círculo de Estudos Políticos, animado por Sousa Tavares, a tratar temas de actualidade, sempre difíceis. Conservadores e progressistas confrontam-se. Ganham os primeiros fugazmente, mas Sousa Tavares, apoiante de Delgado em 58, ao lado de Almeida Braga e de Vieira de Almeida, vai tornar-se a figura influente e decisiva do Centro num tempo de abrir novos horizontes, ou da poesia, do teatro e da cultura enquanto armas políticas.

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