Faz um ano que Helena Vaz da Silva nos deixou, mas a sua memória continua bem viva. Como dissemos há um ano, “a Helena fervilhava em ideias e iniciativas – ocupou a vida a semear o futuro. O Centro Nacional de Cultura foi a sua casa (…) que transformou numa associação viva que ilustra bem como é possível apoiar e dinamizar a cultura a partir das iniciativas da sociedade civil”. Edgar Morin falou de um “grupo jovem, ardente, de reflexão, talentoso, no qual se distinguia a juventude, o ardor, a reflexão e o talento de Helena”. Era o momento de “O Tempo e o Modo” – cujos quarenta anos assinalaremos em Dezembro. Helena foi jornalista no auge dos acontecimentos da revolução portuguesa, e foi globe-trotter a escrever sobre cultura, ideias, projectos e sobretudo a propósito de pessoas e da arte de viver. Depois veio a “Raiz e Utopia”, a revista que ainda hoje nos permite perceber como se semeiam boas ideias, na consciência plena de que há ideias que a história agarra e outras que o vento as leva. Helena sabia como ninguém que é assim mesmo. “Um dia, releu de Régio `Davam grandes passeios aos domingos´ e o Centro Nacional de Cultura tornou-se peripatético, andando por toda a parte, por todo o mundo e arredores, sempre sob a inesgotável curiosidade e o espírito de descoberta de Helena – sempre disponível para levantar ferro através de Portugal e do Mundo. E quanto ficamos a dever a esses passeios e ao que eles permitiram… A Helena era assim. Sentava-se com as notas na sua frente e a partir dali nasciam os programas, os calendários, os grupos de animação. No final dos anos oitenta participou na aventura da renovação da UNESCO, num momento único em que, com Federico Mayor, imaginou um novo modo de olhar a educação, a ciência, a cultura e a comunicação. A educação para todos e a formação ao longo da vida, o apoio à investigação e à ligação da ciência à sociedade, o diálogo entre saberes, a defesa do património e da criação cultural, a cultura da paz – eis o que não poderá ser esquecido. Como parlamentar europeia, continuou a sua tarefa incansável de cidadã do mundo. Para além das fronteiras partidárias, Helena uniu esforços, reuniu energias. Trabalhou activamente com Enrique Barón Crespo e com ele apoiou o extraordinário projecto do Maestro Menhuin em prol da educação dos desfavorecidos e do diálogo das culturas. Foi uma cidadã exemplar. O seu entusiasmo, o seu gosto de viver, a permanente curiosidade, a inteligência, a capacidade de compreender o novo e o moderno jamais os esqueceremos. Helena não nos deixou. Todos os que formámos a sua equipa continuamos-lhe fiéis. Será sempre a nossa Presidente!
Como habitualmente, o Centro Nacional de Cultura interrompe as suas actividades no mês de Agosto. Vamos retemperar as energias para o novo ano lectivo. E depois de Setembro teremos mil novas actividades para florescer.
Guilherme d`Oliveira Martins