REFLEXÃO DA SEMANA
De 25 de Abril a 1 de Maio de 2005
Justíssima homenagem da cidade de Lisboa à memória de Helena Vaz da Silva. Desde sexta-feira, a toponímia da cidade regista o nome de quem foi a grande impulsionadora da acção do Centro Nacional de Cultura depois de 1974 e uma das referências fundamentais do jornalismo cultural português nas últimas décadas. Appio Sottomayor leu as palavras significativas de Alice Vieira e juntou o seu testemunho sentido. Alberto Vaz da Silva trouxe-nos a memória viva de uma personalidade solar, sempre cheia de entusiasmo e de ideias novas. E o Presidente da Câmara Municipal, Pedro Santana Lopes, exprimiu a homenagem da cidade, a quem a cultura portuguesa muito deve, já que Helena sempre encarou a cultura como realidade viva, aberta à criatividade necessária, a começar nos mais jovens. Na Alta de Lisboa, na freguesia do Lumiar, há agora uma rua larga e arejada que lembra a memória da Helena. É um pequeníssimo sinal. O fundamental do seu exemplo, ficou na sua acção e nos caminhos novos que apontou. E é esse exemplo que nos deixa uma enorme saudade… Mas Helena ensinou-nos sempre que nunca deveríamos baixar os braços ou olhar para trás. Neste momento em que o debate sobre o futuro da Europa está numa encruzilhada decisiva, é fundamental recordar o que disse e o que fez para que o “espírito europeu” não se perdesse ou se enfraquecesse. No esteio de Edgar Morin, disse-nos sempre que os discursos catástrofe e os discursos euforia são igualmente vãos. É preciso partir da incerteza, para podermos construir projectos que aproveitem os vários ventos e as várias marés. O planeamento rígido é sempre inimigo da inovação. Daí a defesa de um renascimento cultural – capaz de reproduzir no mundo da vida as metamorfoses da natureza criadora. Há sempre uma certa destruição inerente à capacidade de inovar. Eduardo Lourenço disse que a Helena era activista e sonhadora. Eis dois ingredientes fundamentais para acreditar e para construir a Europa das pessoas. E Helena tornou claro que “o contraponto Europa Unida/Europa das Nações é um falso problema. E separar a Europa dos Cidadãos da Europa das Nações é um artifício. O espaço comunitário (sobretudo com a perspectiva do alargamento) precisa de criar estruturas de comando e organização, claras e sólidas que o tornem internamente governável e capaz de enfrentar a competição externamente. Não me parece que isso ofereça dúvida…” São esses os desafios que abrem caminho à audácia – contra as posições de receio ou puramente defensivas, contra as tentações centralistas e burocráticas, contra a ilusão harmonizadora, contra uma representação deficiente dos cidadãos… Regressemos à visão do tempo e da História como espirais, que sobem e convergem. Voltemos às “forças fracas”. E neste tempo de todas as incertezas, de todas as dúvidas e de ausência de memória recordêmo-lo.