1. A guerra invade as nossas vidas. Num tempo em que se
poderia pensar que o primado do Direito Internacional seria aceite como regra
natural – deparamos com uma
perigosa aventura, à margem da lei e animada por uma estranha ilusão
purificadora? A Europa está dividida e faz assim o jogo de quem deseja que
continue frágil e incapaz. Reina a “desordem estabelecida” na cena
internacional. A solidariedade atlântica é interpretada por alguns como algo de
unilateral e unívoco – esquecendo-se que desse modo a solidariedade desaparece,
por se tornar uma contradição nos termos. Há exactamente quarenta anos, João
XXIII subscreveu a encíclica “Pacem in Terris”. Aí está dito com clareza que “a
ordem entre os seres humanos” deve orientar-se pelos valores da paz e do
respeito pela dignidade humana. As bandeiras do arco-íris com a palavra “Pace”
simbolizam hoje esse ideal – que ultrapassa em muito uma luta política de curto
prazo. Trata-se de entender os sinais dos tempos! E não se abra caminho ao caos
e à cegueira fundamentalista! Afinal, “a paz é uma palavra vazia de sentido”, se
não se fundar numa ordem “baseada na verdade, constituída segundo a justiça,
alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade”
(P.T., V).
2. No dia 21 de Março teve lugar, de Lisboa a Varsóvia, a
iniciativa “Primavera da Europa” em milhares de escolas do nosso continente. Fui
à minha escola de sempre – o Liceu Pedro Nunes – falar da “Convenção Europeia
como factor de Paz”. Durante duas horas conversámos, numa sala cheia, sobre o
presente e o futuro da União. Senti o interesse e a preocupação – e uma vontade
generalizada de mais Europa como espaço de segurança e de paz, como lugar de
desenvolvimento sustentável e duradouro e como encruzilhada de várias
identidades e diferenças culturais. Num dia em que a guerra avançava, uma escola
de cidadãos estava
activa.
3. Em dia de luto, plantámos uma oliveira. O dia mundial da
poesia não pôde ser celebrado com a alegria de outros anos. Aqui fica, porém, a
invocação necessária!
De Sophia de Mello Breyner
Andresen:
“Peço-Te que sejas o presente
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado.”
CORAL, 1950
Poesia, sereno factor de Paz! Mas onde estão os caminhos da
paz?
Guilherme d`Oliveira
Martins