É Natal. O consumo parece ter mais força do que as mensagens
espirituais e no mundo prepara-se uma guerra, por entre muitos sinais
de crise e incerteza. Há nuvens negras que se acastelam no horizonte.
Por que motivo voltamos a esquecer o significado de uma época de
paz e de boa vontade? Teremos disponibilidade para voltar a ouvir a história
maravilhosa do "Cavaleiro da Dinamarca" – em que "as crianças
corriam agitadas de quarto em quarto, subiam e desciam a correr as escadas,
faziam recados, ajudavam nos preparativos" ou "ficavam caladas
e, cismando, olhavam pelas janelas a floresta enorme e pensavam na história
maravilhosa dos três reis do Oriente que vinham a caminho do presépio
de Belém"?
Há, no entanto, sinais de esperança. Em Copenhaga, há
uma semana, a União Europeia deu um passo histórico ao decidir
formalmente o alargamento a mais dez países, jovens democracias,
do Centro e do Leste do nosso continente. E vimos o sorriso aberto de
Adam Michnik. E recordámos o tempo em que o sabíamos preso
por acreditar na liberdade. A Europa tem de ser um espaço aberto
de paz, de desenvolvimento e de solidariedade.
Num mundo instável e inseguro é essencial este passo. Mas,
como todas as decisões fundamentais, esta não é destituída
de riscos. Impõe-se que todos os europeus tomem consciência
de que a União não deverá enfraquecer-se através
do alargamento das suas fronteiras nem diluir-se num modelo ingovernável.
Eis porque a Convenção para o Futuro da Europa está
confrontada com um novo e exigente desafio – o de criar instituições
legítimas e procedimentos eficazes, que os cidadãos compreendam.
Trata-se de construir uma autêntica democracia supranacional. Sem
esses instrumentos democráticos, sem uma participação
activa dos cidadãos, sem a tomada de consciência de que terá
de haver um núcleo activo e dinâmico, consciente das diferenças
e da história, em que Portugal terá de participar activamente,
com cooperações reforçadas e uma responsabilidade
acrescida – o projecto comum estará em causa e poderá ser
votado ao insucesso.
"Um por todos, todos por um". Será que, no ano em que
Alexandre Dumas, o autor que encheu o nosso imaginário juvenil
com audácia e coragem, entrou no solenemente Panthéon, poderemos
lembrar o lema dos mosqueteiros?
Guilherme d`Oliveira
Martins
Presidente do Centro Nacional de Cultura