Reflexões

De 21 a 27 de Março de 2005

Boa Páscoa! Prosseguimos a peregrinação pelo tempo longo do Centro Nacional de Cultura, assinalando os sessenta anos da sua fundação. Na década de setenta, momento em que se anunciavam todas as mudanças, os debates sobre temas controversos continuaram. (…)

REFLEXÃO DA SEMANA
De 21 a 27 de Março de 2005


Boa Páscoa! Prosseguimos a peregrinação pelo tempo longo do Centro Nacional de Cultura, assinalando os sessenta anos da sua fundação. Na década de setenta, momento em que se anunciavam todas as mudanças, os debates sobre temas controversos continuaram. Ultramar, Censura, Liberdade de Imprensa, Urbanismo são assuntos que atraem muitos assistentes e que entusiasmam plateias. A política está sempre presente, apesar de todas as ameaças e constrangimentos. Em 1970, António Alçada Baptista e Nuno Teotónio Pereira trazem para o Centro a sede da “Associação para a Liberdade da Cultura”, presidida em Paris por Pierre Emmanuel. João Bénard da Costa é o esteio da iniciativa. Estava em causa a mudança de orientação de “O Tempo e o Modo”, até então sede da Associação. Os ventos chineses tomam a revista. Havia que encontrar, por isso, outro espaço de intervenção. Sedas Nunes, Lindley Cintra, Joel Serrão, Mário Murteira, José Cardoso Pires, José Augusto França, Miller Guerra, José Ribeiro Santos, e ainda Nuno de Bragança, Nuno Teotónio Pereira, Maria de Lourdes Belchior, Rui Grácio, José Palla e Carmo, Padre Manuel Antunes e João de Freitas Branco – além de João Bénard – constituem a comissão portuguesa. Nuno Teotónio Pereira, António Alçada Baptista, José Cardoso Pires e João de Freitas Branco assumem rotativamente a presidência do Centro até 1974. João Bénard da Costa assegura a continuidade como secretário da direcção no período de 1970 a 1974. É um momento de contradições e de perplexidades – se Nuno Teotónio Pereira é preso, Veiga Simão, o novo Ministro da Educação, constitui uma Comissão de Cultura exclusivamente com membros do CNC. Por outro lado, a Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos funciona no Centro. A liberdade de imprensa é discutida abertamente. Há cursos livres sobre temas controversos e proibidos (o marxismo, o anarco-sindicalismo, a primeira República, o anarquismo, os novos caminhos da Igreja), realizam-se os jornais falados sobre temas de política e de cultura. Uma sessão com José Afonso é proibida e, fechadas as portas do Centro, acaba em repressão policial. Chega a democracia. Francisco Sousa Tavares está em 25 de Abril no Largo do Carmo e no dia seguinte em Caxias, como sempre estivera na primeira linha do inconformismo. A legalização dos partidos políticos reduz a actividade do Centro nos primeiros meses da revolução. José-Augusto França, à frente dos destinos do CNC, instala o departamento de História de Arte da Universidade Nova aqui. E em 1977, Helena Vaz da Silva assume a presidência do CNC, plena de entusiasmo e de novas ideias, e inicia-se uma fase intensa de debates, de passeios de domingo, de mil projectos sobre o Património Cultural e sobre a projecção internacional da presença portuguesa… Começava o tempo actual. 

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