1. O Porto recebeu-nos com um fim de semana fantástico.
Pudemos na Serra do Pilar, em Serralves, no Rivoli, no Museu Soares dos Reis,
na Casa Museu Guerra Junqueiro ou no itinerário romântico gozar
diversas perspectivas e leituras sobre o património histórico
e a criação cultural… A Ponte cultural funcionou e no próximo
trimestre vai-se tornar, pela primeira vez Ponto Cultural Porto-Lisboa. Com
Teresa Patrício Gouveia e Luís Braga da Cruz, começámos
a planeá-la.
2. Recordámos com Ruben A.: “O Campo Alegre era um oásis
no Porto. Tanto o Campo Alegre como a quinta do mesmo nome (…) refugiava-se
num dos sítios mais bonitos da cidade. Para lá se chegar ou era
a pé ou de automóvel. Como nessa data, entre fins da segunda década
do século e começos da terceira, os carros escasseavam, era mesmo
a pé que se descobria aquele mundo maravilhoso, não urbanizado,
cheio de árvores, aves de arribação, grades do século
XIX, ambiente de liberdade, histórias de amor, maldições
pairadas, e muitos ingleses com o seu clube desportivo e suas casas sempre cómodas”
(O Mundo à Minha Procura, I).
3. E Sophia lá aprendeu o amor do mar. Esse mesmo mar que o Douro encontra
na Foz inesquecível. Homero tornou-se luzeiro e horizonte. E nesse encontro
da terra e do mar, a poeta procura a medida, o equilíbrio, a pureza e
a sabedoria. O tempo e o exemplo ensinaram-lhe “a coragem e a alegria do
combate desigual”. “A poesia é oferecida a cada pessoa uma
vez e o efeito de negação é irreversível”.
“O amor é oferecido raramente, e aquele que o nega algumas vezes
depois não o encontra mais”. Em cada palavra a poeta procura não
perder nada dessa oportunidade rara. “Mas a santidade é oferecida
a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade
são obrigados a repetir a negação todos os dias”.
“Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um
poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa,
um círculo onde o pássaro do real fica preso” (Sophia, Arte
Poética, III). Eis o que Eduardo Lourenço designa como “fosforescência
irresistível de ser que impõe ao poeta a sua exacta nomeação
como dever de justiça, de justeza, de libertação e íntima
transparência”. Talvez sejam estes os antípodas de Álvaro
de Campos? Mas fica a mesma exigência na interrogação
do ser…
4. José Craveirinha (1922-2003) será sempre uma referência
maior da cultura moçambicana e da língua portuguesa. Poeta e cidadão,
sentiu como ninguém os sentimentos do seu povo moçambicano. Continuaremos
a lê-lo!
5. Um abraço solidário à equipa do “Acontece”
e a Carlos Pinto Coelho. O exercício exemplar do serviço público
e televisão não pode acabar!
Guilherme d`Oliveira Martins