Reflexões

De 16 a 22 de Maio de 2005

“Cada vez se fala mais de cultura relativamente a tudo, excepto em relação àquilo onde se colocam as bases da sua existência, ou seja, a escola”. No recente Encontro Europeu da Cultura, Alain Finkielkraut criticou um certo cosmopolitismo frágil (…)”

REFLEXÃO DA SEMANA
De 16 a 22 de Maio de 2005


“Cada vez se fala mais de cultura relativamente a tudo, excepto em relação àquilo onde se colocam as bases da sua existência, ou seja, a escola”. No recente Encontro Europeu da Cultura, Alain Finkielkraut criticou um certo cosmopolitismo frágil, que confunde a Europa com uma placa giratória, um aeroporto, no qual ninguém se sente verdadeiramente em casa, e onde a política cede o passo a um primado cego do mercado. A ligação entre Educação e Cultura tem de ser cada vez mais nítida – para que percebamos que o despertar das consciências para a liberdade e a responsabilidade, tem de se fazer com rigor, esforço, exigência. E se Kundera diz ser um europeu que sente nostalgia da Europa, é preciso clarificar que fala de uma Europa de valores que nos faz falta, uma Europa capaz de aprender com os erros do passado, não uma Europa que vive a incoerência entre os princípios e as acções, e que se esgotou em guerras civis e na indiferença, que abriram caminho à barbárie. Em lugar de pedir o impossível, é fundamental ficarmo-nos pela tomada de consciência dos limites e das fronteiras, a fim de que os possamos superar. E recordo as conclusões do relatório coordenado por Dominique Strauss-Kahn, por encomenda do então Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, onde se insistia na necessidade de considerar a cultura como um factor de coesão e as diferenças como elementos enriquecedores das várias identidades. Nesse sentido, é positiva a ideia de uma Biblioteca Digital Europeia (desde que se respeitem escrupulosamente os direitos de autor e a qualidade das versões publicadas) e defendemos activamente a campanha da Fundação Europeia de Cultura e do Fórum Europeu das Artes e Património (EFAH) denominada «70 cêntimos para a cultura». Longe de uma lógica centrada na dependência ou nos subsídios, é indispensável que os investimentos de alcance cultural abandonem a actual apagada e vil tristeza. Trata-se de propor a decuplicação dos actuais valores orçamentais na UE, no sentido de dar dimensão digna e adequada às indústrias culturais europeias e às acções coordenadas capazes de ligar cultura, educação, plurilinguísmo, cidadania, ciência e comunicação. E não se pense que a economia europeia poderá ser inovadora, se não incorporar cada vez mais uma dimensão cultural. Daí a importância crescente nas sociedades modernas da educação e da aprendizagem. Mas a aprendizagem tem de conter a compreensão das diferenças e das complementaridades, do que somos e da nossa relação com os outros, para que a cultura de aeroporto não se imponha e para que a profecia dramática de Steiner se não cumpra: «as pessoas enraizadas na sua cultura irão esquecer a própria identidade das suas recordações». Para tanto, memória e vontade têm de ser valorizadas devidamente como elementos cruciais de uma cultura.
 



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