REFLEXÃO DA SEMANA
De 11 a 17 de Abril de 2005
Hans Christian Andersen (1805-1875) nasceu há duzentos anos e é uma das grandes referências da cultura europeia. Naturalmente que não se pode comparar a sua influência à dos grandes renovadores da literatura. No entanto, o género que cultivou – o conto popular – teve nele uma expressão de simplicidade, de clareza e de sensibilidade que lhe permitiu marcar várias gerações. Se é certo que não escreveu para crianças, a verdade é que foi o imaginário infantil e juvenil que Andersen mais influenciou. E esse facto é que garantiu a popularidade, para além das fronteiras do tempo ou da moda. Aí está o seu génio de educador. Não foi, contudo, mais um contador de histórias. Pôde, sim, compilar e divulgar tradições populares, mas também criar um novo relacionamento com o imaginário da narrativa. Quem não lembra: “Lá longe, bem longe no mar a água é tão azul como as folhas da centáurea mais bonita e tão límpida como o vidro mais puro…”? Filho de um sapateiro e de uma lavadeira, vítima de vicissitudes infelizes, Andersen lembrava-se bem das longas noites frias, em que a única distracção era a leitura que seu pai fazia da Bíblia e das Mil e Uma Noites. Órfão com apenas onze anos foi trabalhar para a manipulação do tabaco, onde esteve pouco tempo. Tentou outras ocupações, mas não descansou enquanto não tentou o teatro em Copenhaga. Mas não conseguiu o seu intento. Estudou em condições difíceis em Elsinore, frequentou a Universidade. Finalmente, conseguiu que uma obra sua fosse representada e não mais parou na criação literária. Kierkegaard foi no início severo com o que Andersen escreveu. Disse que as infelicidades que relatava não pressupunham um pensamento. No entanto, a maturidade não se faria esperar. Os contos maravilhosos alcançam assinalável êxito. Insiste, porém, que escreve para todos. Quais os motivos para o sucesso? A linguagem acessível e clara e a temática muito atraente. “A Sereiazinha”, “O Patinho Feio”, “O Fato Novo do Imperador” e a “Menina dos Fósforos” são exemplos dessa capacidade para mobilizar as atenções e as imaginações. E, se os irmãos Grimm aproveitaram sobretudo as tradições populares, Hans Christian Andersen foi mais além. Criou novos enredos e personagens, para gáudio dos seus leitores. Dos brinquedos aos utensílios de cozinha, tudo poderia tornar-se um bom tema para pôr em confronto sentimentos humanos, o bem e o mal. Escritor romântico, amigo de Dickens, procurou fazer da sua escrita um constante apelo ético, contra o egoísmo e pela justiça. Viajante incansável, pôde deambular, olhando os diversos locais por onde passava com “olhos de ver”. Alemanha, França, Itália, Estados Unidos, Espanha e Portugal foram os seus destinos. Sintra atraiu-o sobremaneira, como já tinha atraído o Lorde Byron. Temo-lo perto…