Dia emocionante e difícil, este que foi reservado a visitar Paliacate (Pulicat em tâmil). Ao ouvirmos o depoimento de Anísio Franco assalta-nos um sentimento de perplexidade e de desgosto.
A informação que havia antes era muito vaga. Paliacate localiza-se a norte de Madrasta. Foi um estabelecimento português entre 1518 e 1610, altura em quer os holandeses conquistaram a cidade. Em 1612 os portugueses ainda atacaram a feitoria holandesa, mas não voltaram a ter presença na cidade.
O grupo do CNC contou com o acompanhamento de Xavier Bennedict, da Fundação AARDE (Art and Architecture Rechearch Development and Education Foundation), dedicada ao património cultural, arte, arquitetura e educação, à proteção da natureza e dos recursos hídricos.
A primeira surpresa foi a de se constatar que no local do antigo forte português, a Igreja de Nossa Senhora Glória desapareceu, pura e simplesmente, foi demolida. Era um templo de estrutura manuelina, construído cerca de 1515-16…
Durante a visita à casa do Padre, à nova igreja e ao cemitério português foi encontrado um retábulo representando a Virgem Maria em mau estado de conservação e ainda numa lixeira um outro retábulo indo-português muito degradado. O cemitério está devorado por plantas tropicais. Foi encontrada, assim, uma situação de muito grave degradação do património. Junto do Padre Gabriel foi feita a sensibilização relativamente ao caso e sobre a eventualidade de envolver a Fundação AARDE numa proteção mínima do que foi encontrado. No entanto, ficou claramente uma sensação de grande preocupação perante a situação encontrada. A Bárbara frisa especialmente que este é um verdadeiro programa dos portugueses ao encontro da sua História. Além do retábulo na lixeira, a Helena Serra ainda encontrou os restos de uma pia batismal, provavelmente dos séculos XVI-XVII, e entregou a Xavier Bennedict, quem, para a Bárbara, é uma espécie de D. Quixote em defesa do ambiente, dos pássaros e dos recursos naturais. Está em Paliacate desde os tempos do tsunami e por ali ficou até hoje.
O lago de Paliacat assemelha-se à ria de Aveiro e próximo encontra-se o Centro de lançamento de foguetões da Índia… Uma das preocupações do jovem arquiteto tem sido evitar que as datas dos lançamentos prejudiquem o ciclo de vida das aves, o que deixou o grupo especialmente impressionado… Infelizmente, se foi possível mudar as datas dos foguetões, não foi viável evitar a destruição da antiga igreja de Nossa Senhora da Glória, substituída por uma espécie de salão de jogos numa cave, que se parece com uma pista de bowling, e onde está o primeiro retábulo referido, mal conservado e plastificado.
E houve ainda o surpreendente pic-nic, com tendas e passadeira vermelha. Esperava-se um improviso e houve um verdadeiro banquete de casamento, com cozinheiro de chapéu, e criados com luvas de plástico e fardamentos insólitos… Uma situação singular em que a generosidade hospitaleira levou o grupo a participar num buffet que todos estavam longe de esperar.
Anísio Franco ainda recordou a cestaria tradicional de folhas de palma da região, em que a Fundação AARDE também está empenhada em apoiar, além da recordação dos tecidos de linho que aqui eram produzidos e que em língua espanhola ainda hoje se designam como “paliacate”… Anísio Franco insiste na destruição da igreja e fala de um desespero absoluto.
Mas as descrições coloridas dos acontecimentos do dia culminam com o encontro ao longo do percurso, de cerca de 60 quilómetros, feito em muitas horas, com a continuação das festividades de Ganesh, cujas imagens são levadas para o mar, com o entusiamo conhecido.
Crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:
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