Cento e sessenta e dois anos de presença portuguesa em Cochim merecem referência especial. Muitas influências são sentidas – por exemplo, nas palavras portuguesas de uso quotidiano que aqui se falam (mesa, cadeira, porta, janela…). A cidade tem uma estrutura muito portuguesa, a memória de Vasco da Gama, que aqui morreu, está muito presente, na igreja que foi de Santo António e hoje de S. Francisco, onde esteve o seu túmulo, até que foi transladado para Portugal.
A igreja de Nossa Senhora da Vida invoca o milagre do cruzeiro, que segundo a tradição não foi derrubada, apesar da tentativa nesse sentido de um grupo numeroso de holandeses… Seguiram-se visitas ao palácio de Mattancherry, inicialmente português e depois adaptado pelos holandeses, com arte hindu representativa das narrativas tradicionais; à judiaria, que hoje é o grande centro do comércio tradicional da cidade; à Sinagoga, onde se notam apontamentos indo-portugueses; e à igreja de S. Jorge, com uma decoração maneirista, que marca o sincretismo religioso e artístico do Malabar. A Bárbara voltou a entusiasmar-se com a descrição do dia de Onam, feriado, por isso o comércio estava fechado e as pessoas passeavam com vestimentas muito vistosas, como explicou ontem, pormenorizadamente. O Albert, imprescindível guia, indicou o lugar da sua casa, e explicou ser feita de materiais tradicionais recuperados, um teto holandês, janelas de uma casa antiga, portas de uma igreja… Falou-nos de um antigo grupo de rock e das plantas que cultiva.
Oiçamos Walter Rossa sobre Cochim, bem nossa conhecida, no HPIP:
Estamos no «primeiro posto português no Oriente bem sucedido (1503). A feitoria portuguesa, ali instalada em finais de 1500 – em casas para tal cedidas pelo samorim no âmbito de um acordo dificilmente logrado por Pedro Álvares Cabral – desde logo foi boicotada através da recusa em fornecer‐lhe especiarias e, depois, atacada e arrasada numa ação de que resultou a morte do feitor e de muitos dos seus homens, entre os quais o célebre Pêro Vaz de Caminha. (…) Sob a ação imediata de Pedro Álvares Cabral, os portugueses voltaram‐se desde logo e definitivamente para um súbdito, Una Goda Varma Koil Tirumulpad, rajá de Cochim, porto rival de Calecute, cidade situada a cerca de uma centena e meia de quilómetros a sul, em plena Costa do Malabar, capital de um pequeno território. Já no dobrar de 1500 para 1501, chegado precisamente de Calecute, Pedro Álvares Cabral encontrou ali um excelente acolhimento. O soberano local jogava forte para se libertar da suserania de Calecute, no que foi seguido por outros como o de Cananor e Coulão. (…) No território do então reino de Cochim há um conjunto e extensão consideráveis de ilhéus e canais interiores – as backwaters – onde ainda hoje a navegação é mais fácil que os percursos por terra. Esse meio aquático é sazonalmente invadido pelas águas das enxurradas da monção, as quais ali se fundem com o mar que enchem dos detritos vegetais das montanhas, os Gates. (…) Não tivesse ocorrido a oposição do samorim de Calecute e talvez nunca os portugueses tivessem erguido as estruturas urbanas e edificadas que ergueram no Malabar, ou mesmo instalado um tão grande número de efetivos. Só na área mais a poente, já sobre o mar e por tudo isso decerto a ocupada mais tardiamente, se encontrava uma morfologia urbana denunciando um planeamento prévio, um “caseamento” similar ao que já há muito em Portugal e um pouco por toda a Europa se produzia nas “vilas novas”, mais do que regular, claramente regulado. Por ali se instalaram os franciscanos, os jesuítas, e os dominicanos. Em 1530, o centro político passou de Cochim para Goa, o que não teve um impacto na cidade tão grande quanto à primeira vista poderá parecer. (…) Para além do mais, além de irem a Goa, as naus da Carreira da Índia continuaram a frequentar a cidade, bem como quase todo o tráfego que do Extremo Oriente (Malaca) rumava a Goa. (…) Significativamente, em 1557, os portugueses ofereceram ao rei de Cochim um palácio construído de raiz no meio da sua capital. É hoje conhecido como Dutch Palace ou Mattancherry Palace, pois os holandeses alteraram-no significativamente, não sendo claro se o essencial do seu partido arquitetónico – dois pisos e um pátio central onde foi implantado um templo hindu – é de matriz portuguesa. (…) O património de origem portuguesa em Cochim é claramente urbanístico, por isso imaterial, mas muito expressivo da história da primeira sede da presença portuguesa no Oriente. Por solicitação do bispo, a Fundação Calouste Gulbenkian financiou a construção de um edifício nos jardins do Paço Episcopal expressamente projetado para albergar o Museu Indo‐Português.
Crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:
Consulte aqui o Programa desta viagem.
Apoio: Portal HPIP – Património de Influência Portuguesa
Altar-mor da Catedral de Cochim Casa de Vasco da Gama Igreja de São Francisco Túmulo de Vasco da Gama na Igreja de São Francisco Igreja de Nossa Senhora da Vida Zona histórica do Forte de Cochim Zona histórica do Forte de Cochim Zona histórica do Forte de Cochim Redes de Pesca Palácio de Mattancherry Sinagoga Igreja de São Jorge Altar-mor da Igreja de São Jorge Parte do tecto da Igreja de São Jorge