Deixou-nos há pouco e uma das suas últimas vontades foi a de pedir que pudéssemos publicar o seu último texto, intitulado significativamente “Mágoa”. Fazemo-lo muito gratos pela sua generosidade e pela sua entrega de sempre à causa da cultura.
E a grande mensagem que nos deixa é a de que continuemos a lutar pela criação cultural, como fator de emancipação, de justiças e de humanismo.
Não esquecemos o Carlos!
MÁGOA
Quando alguém morre subitamente, por acidente ou morte natural, tal parece injusto e pouca consolação há para os que ficam mais sós.
Nos variados tipos de acidentes não se nos oferece o valor da calma que uma velhice prepara para esse desfecho; não existe uma despedida. Muito fica por dizer e terminar.
Mas resta aos vivos um consolo que é o de saberem que os mortos não desejam que os vivos arrastem o seu penar como se na dor houvesse uma promessa de consolo, de um retorno à alegria de se estar vivo e um regresso à felicidade: do coração das trevas nasce a luz.
Pensamos nós que lhe éramos queridos, familiares e amigos e imaginamo-nos aos cantos a chorar a sua morte e se lhes perguntássemos o que eles desejariam se sentissem a resposta seria certamente: “Nem muito nem por muito tempo”.
Esperariam certamente que aceitassem a perda e recordassem o melhor do passado com alegria e que prosseguissem as suas vidas com confiança, a condição humana mais própria do ser vivo.
A angústia e a mágoa doem mais na solidão, as mágoas são menos amargas quando misturadas com as lágrimas de ontem. A mágoa é tristeza e sabedoria e uma das coisas que ensina é o seu próprio lugar na textura das coisas.
Porém nunca somos suficientemente diligentes para ultrapassarmos completamente a mágoa provocada pela perda dos que mais amamos.
Aprendemos a viver com ela e apesar dela o que infunde uma maior riqueza à vida. Este é o dom da mágoa embora nunca seja desejada.
Carlos Rosa