O Teatro Tália é classificado Imóvel de Interesse Público desde 1974!!
Hoje, o Palácio serve de sede ao Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior. Mas o Teatro Tália continua como até aqui,
ao abandono.
Pois bem, neste novo séc.XXI, julgamos que é tempo de se recuperar o Teatro Tália. É tempo do Estado dar o exemplo e cuidar do seu património. E pode começar por cumprir aquilo que se comprometeu faze, aquando da concessão à Presidência do Conselho de Ministros, que foi: utilizado pelos serviços dependentes da como auditório polivalente, designadamente para actividades como teatro, exposições, conferências e formação profissional. Sempre que possível seria permitida a utilização daquele espaço por outras entidades.
Ao mesmo tempo, o Teatro Tália poderia potenciar sinergias com o Zoo, aos fins-de-semana, podendo albergar teatro infantil e teatro de marionetas (à semelhança do que existe em Salzburgo, por exemplo), mas também poderia acolher sessões didácticas, pedagógicas, destinadas a todos, de miúdos a graúdos. Isto se Lisboa fosse uma capital desenvolvida, cosmopolita, claro, tudo menos provinciana.
Nesse sentido, apelámos já ao Governo, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Primeiro Ministro, e na do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, bem como à Junta de São Domingos de Benfica e ao Zoo, para que finalmente se avance com a reabilitação do Teatro Tália, fazendo cumprimir uma promessa de há 20 anos.
Leia o descritivo do “site” do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
>> http://www.mces.pt/?id_categoria=23
AUTO DE CESSÃO DO TEATRO TÁLIA
O conjunto arquitectónico do Palácio do Conde de Farrobo ou das Laranjeiras, que foi objecto de divulgação através de um artigo publicado no número 1 da Patrimonium, integra o Teatro Tália.
O Teatro Tália foi englobado na cedência, a título precário, do referido conjunto arquitectónico á Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, entidade que já utilizava o edifício do Palácio para instalação dos seus serviços.
O respectivo auto de cessão foi assinado no dia 5 de Novembro, na sede da Direcção Geral do Património e nele outorgaram:
-A Senhora Dra. Maria Isabel Brazão, Subdirectora-Geral do Património por parte da Direcção Geral do Património, Ministério das Finanças;
-O Senhor Dr. Alexandre Alves de Figueiredo, Secretário-Geral, por parte da Secretaria Geral do Conselho de Ministros.
A recuperação do Teatro Tália, que se encontra em adiantado estado de degradação, será da responsabilidade da entidade afectatária. Sendo o conjunto arquitectónico classificado de interesse público, encontra-se por esse facto abrangido pela legislação respeitante à salvaguarda e valorização, pelo que os projectos das necessárias obras serão, por intermédio da Direcção -Geral do Património, submetidas às entidades com competência naquela matéria.
O Teatro Tália destina-se a ser utilizado pelos serviços dependentes da Presidência do Conselho de Ministros como auditório polivalente, designadamente para actividades como teatro, exposições, conferências e formação profissional. Sempre que possível será permitida a utilização daquele espaço por outras entidades.
Maria Fernanda Rebelo Borges
TEATRO
A par do palácio, que ficou memorável na história elegante dos meados do século XIX, ergue-se, num dos lados do grande pátio quadrilátero, o famoso Teatro, que data de 1820. Rudimentar na sua primeira fase, foi reedificado e iluminado a gás em 1842, o que constituiu uma grande inovação para a época e na capital.
Aqui se estreou «Frei Luís de Sousa» de Almeida Garrett e subiram à cena 18 óperas entre 1834 e 1853. Óperas dos mais afamados compositores, tais como os maestros Jordani, António de Coppola e Ângelo Frondoni, que vieram para Lisboa quando Farrobo era empresário do Teatro S. Carlos. Do último, que foi professor no Conservatório, chegou até nós o hino da «Maria da Fonte», que várias contrariedades lhe causou.
A morte da rainha D.Maria II, que frequentava com regularidade a casa do conde, veio interromper, por algum tempo, a vida social e artística do Palácio.
Em 1856 ainda foi reaberto o Teatro, com ópera italiana e comédias em português e francês. No entanto, a 9 de Setembro de 1862, um incêndio casual, motivado por descuido de uns operários, consumiu totalmente este pequeno templo de arte. A sua reconstrução já não se fez, pois a fortuna do conde de Farrobo começava a dissipar-se.
Exterior
Guarnece-lhe a fachada principal um elegante e espaçoso peristilo sustentado por quatro colunas de mármore branco, de ordem toscana. Prolongam-se os plintos por quatro pedestais, que avançam do peristilo e sobre os quais descansam outras tantas esfinges, figuras fabulosas com rostos e bustos de mulheres e corpos de leões, deitados e apoiados sobre as patas.
À frente, e em plano inferior, um estreito canteiro corre a toda a largura do perístilo, para o qual, à direita, quatro degraus dão acesso, enquanto a esquerda se nivela com o pátio. Remata o frontão triangular de tímpano liso, a estátua de Érato, musa que preside à poesia lírica, esbelta e bem modelada, lira segura na mão esquerda e apoiada na coxa do mesmo lado. Sobre os acrotérios situam-se duas urnas delicadamente esculpidas. Sob o tímpano ostentou em tempos a frase latina: «Hic mores hominum castigantur» («Aqui serão castigados os costumes dos homens»); expressão alusiva ao teatro satírico, de que já não apresenta qualquer vestígio.
InteriorO Teatro das Laranjeiras comportava 560 espectadores, possuía luxuosos camarins e um opulento salão de baile, de paredes revestidas com valiosos espelhos de Veneza.
Nestes reflectiam-se as luzes de numerosos e ricos lustres, que produziam efeitos deslumbrantes.
CONDE DE FARROBO (1801-1869)
Joaquim Pedro Quintela, 2º Barão de Quintela e 1º Conde de Farrobo, nasceu em Lisboa, no palácio de sua família, na Rua do Alecrim, a 11 de Dezembro de 1801, onde veio a falecer, a 24 de Setembro de 1869. Seus ascendentes eram das nobres e ilustres famílias dos Pereiras e dos Rebelos, fidalgos de linhagem. Seus pais foram o 1º Barão de Quintela e D. Maria Joaquina Xavier de Saldanha.
Era um entusiasta da monarquia constitucional e da causa de D.Maria II que muito lhe deveu, principalmente em auxílio monetário. A proclamação do regime absolutista em 1828 deu-lhe um grande desgosto.
O título de conde foi-lhe conferido por D. Pedro IV, tirado do nome de uma propriedade sua – Quinta do Farrobo, próxima de Vila Franca de Xira e uma das mais importantes dos arredores de Lisboa, onde teve palácio e teatro.
Joaquim Pedro Quintela não foi uma figura banal do seu tempo e não pode separar-se da história da sumptuosa propriedade que lhe engrandeceu a sua personalidade de artista.
O palácio Farrobo recebeu de si a divisa «OTIA TUTA», isto é «Toda Prazeres», os prazeres colhidos das manifestações artísticas.
Aqui o repouso era absoluto, e as preocupações terrenas diluíam-se no ambiente celestial da arte.
Rodeou-se de imensa grandiosidade e organizou sumptuosos festejos, de um viver opulento que deram origem à expressão popular «farrobodó», derivada do seu título nobre.
Na sua época foi considerado um grande mecenas sobretudo da arte musical portuguesa e a quem todas as fantasias musicais eram permitidas.
Cantor e excelente executante de orquestra, perito em trompa, Farrobo foi ainda presidente da Academia de Música e segundo empresário do Teatro Nacional de S. Carlos, em 1838. A sua gerência tornou-se principalmente notável pelos artistas célebres que contratou, entre os quais se contavam os de maior renome de então.
Dispensou, no entanto, a sua atenção a outras manifestações artísticas e exerceu as funções de Inspector-Geral dos teatros. Porém, não foi apenas animador de festas mundanas, nem exclusivamente amigo das artes. Tendo exercido outras actividades, nomeadamente a gestão do monopólio dos tabacos, pelo qual entregava ao Estado 1200 contos anuais.
Quando faleceu em 1869, estava à beira da ruína. Perdera uma importante demanda comercial, e nos últimos dias vivia duma pensão do Estado, tendo renunciado ao título.
O empobrecimento do conde de Farrobo determinou a venda dos seus bens em hasta pública.