ARTE & PEREGRINAÇÃO
OS PORTUGUESES AO ENCONTRO DA SUA HISTÓRIA
Há mais de 20 anos que o Centro Nacional de Cultura organiza o ciclo de viagens “Os portugueses ao encontro da sua história”, que procura ir ao encontro dos vestígios deixados pelos portugueses dos séculos XVII e XVIII pelo mundo fora, realizando na actualidade novas formas de relacionamento com base nessa história comum. Trata-se de descobrir múltiplas dimensões da herança cultural portuguesa que se perpetuam em países tão diferentes como os que esta exposição ilustra.
Estas viagens, que são verdadeiras embaixadas culturais, dão origem a novos laços e projectos e são registadas nos Diários de Viagem, sempre da autoria de um artista plástico e de um escritor.
Nesta exposição que agora o Museu do Oriente acolhe, reúnem-se pela primeira vez as ilustrações de quatro grandes artistas portugueses de gerações diferentes, resultado de algumas destas viagens do Centro Nacional de Cultura ao Oriente.
Graça Morais, João Queiroz, José de Guimarães e Bárbara Assis Pacheco acompanharam as Embaixadas Culturais do Centro Nacional de Cultura ao Japão, Indonésia e Índia. Os seus relatos de viagem são a demonstração nítida de que uma crónica gráfica de viagem permite irmos adiante do que se espera, uma vez que, além da narrativa das peregrinações, temos a descrição visual do que se sente num cenário diferente daquele em que vivemos o dia a dia.
A ideia de haver um cronista da escrita e um cronista da imagem, em que Helena Vaz da Silva sempre insistiu, permite assegurar uma complementaridade de impressões, de sensações e de perspectivas. Dir-se-ia que podemos ver mais claramente visto, ora conduzidos pela pena do escritor, ora pelo pincel ou pelo lápis do artista plástico. E, regressados da viagem, podemos reviver tudo mais intensamente, já que pela visão dos cronistas podemos descobrir o outro lado da viagem e da aventura, de que porventura não nos apercebemos logo, mas que agora compreendemos melhor, guiados pela sensibilidade e pelo talento dos criadores. E se olharmos o que nos dão os quatro artistas agora representados, facilmente verificamos que o outro lado da peregrinação – o exótico, o inesperado e o luxuriante – está representado sem recurso ao lugar comum e ao já visto.
Graça Morais dá-nos um Japão humano, em que as pessoas nos dão as boas-vindas e em que sentimos, a cada passo, uma simbiose riquíssima entre tradição e modernidade. Deparamo-nos, assim, com o Japão multissecular, aberto ao diálogo com outras civilizações e fiel a um encontro mágico com os portugueses, metamorfoseados de misterioso povo Namban. E a Graça, com o seu talento e a sua experiência, é uma intérprete fecunda deste povo irmão que vive tão distante geograficamente, mas tão próximo do nosso coração.
João Queiroz faz-nos descobrir a Indonésia através do seu traço impressivo, que não se limita a registar o que se lhe apresenta, uma vez que partilha connosco a sincera amizade das pessoas que agora reencontramos, num diálogo histórico quase inesperado. E o exotismo desta surpresa fica bem evidente, apercebendo-nos, no fundo, de que a distância e o tempo não fizeram desaparecer uma espécie de familiaridade entre nós, antes tendo permitido estreitar um encontro magnífico com as raízes e a língua…
José de Guimarães, esse torna-se um cicerone de excepção para encontrarmos o Japão moderno. A empatia que tem com o império do Sol Nascente é por demais evidente, e a verdade é que o seu relato permite-nos tomar contacto com esse diálogo artístico e cultural, que se apresenta de forma inesperada e viva, através da cor e das formas. Afinal, o artista procura pôr-se dos dois lados em presença, fazendo do diálogo um método vivo.
Já Bárbara Assis Pacheco prefere o estilo próprio que a aproxima talvez da banda desenhada, mas que também procura entrar nos mistérios narrativos do hinduísmo, e da sua fantástica aproximação do sincretismo religioso da Índia. E nós que a acompanhámos na procura de temas para as crónicas, que agora nos mostra, percebemos muito bem que Mumbai, Goa e Cochim foram lugares fantasticamente inspiradores para a sua jovem interrogação relativamente ao mundo.
Os quatro mundos presentes nesta exposição levam-nos ao coração das relações dos portugueses com o Oriente – e aqui o coração é o epicentro, mas também é o lugar dos sentimentos e dos afectos, não vistos superficialmente, mas encarados numa encruzilhada fantástica de lugares ao encontro dos quais os portugueses continuam a aventurar-se e a peregrinar…
Visitas guiada:
– Por Graça Morais – 26 de Março – 15h00
Exposição patente até 27 de Março.