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Alain Touraine (1925-2023)

Morreu Alain Touraine, sociólogo francês conhecido por uma vida dedicada à investigação nos domínios da Sociologia do Trabalho, dos Movimentos sociais e da Democracia. Foi o pai da expressão “sociedade pós-industrial”, tendo o seu trabalho sido baseado na “sociologia da ação”. Touraine acreditava que uma sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas lutas sociais. Estudou e escreveu acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, tendo observado especialmente os casos latino-americanos, bem como os da Polónia, onde observou e ajudou ao nascimento do “Solidariedade”, tendo desenvolvido o método de investigação denominado intervenção sociológica. Nos seus escritos, Touraine deu especial atenção às transformações da sociedade industrial moderna. Para ele, a sociedade pós-industrial, longe de acabar com os conflitos, generaliza-os. Em “A sociedade pós-industrial”, afirmou que essa tendência corresponde ao facto de a sociologia não ser fruto da revolução industrial, apenas se tendo consolidado a partir da segunda metade do século XIX, quando a sociedade passou a ter um maior controle sobre os mecanismos económicos surgidos com a industrialização, que levaram a construções teóricas que identificaram o teor do desenvolvimento económico, intervindo na organização social. Com a retoma do controle social e as mudanças económicas operadas pelos cidadãos é a sociologia que pode constituir-se na ciência social baseada na identificação de uma determinada natureza social no sentido do reconhecimento da sua historicidade, ou seja, da ação social e da capacidade desta em orientar o desenvolvimento do conjunto da sociedade. Na sociedade pós-industrial, a centralidade da produção industrial perde-se.  A aprendizagem, a socialização, o conhecimento e a informação passam a constituir elementos-chave na produção. Os conflitos sociais não se concentram já no elemento económico. Apesar dos conflitos sociais e de classe não desaparecerem, a relação trabalhador-patrão não é tão importante como outrora, principalmente, pelo facto de os conflitos de classes se terem institucionalizado pela concertação social, abrindo espaço para outras reivindicações sociais, agora não tanto económicas, mas culturais – feminismo, orientação sexual, diferenciação étnica, defesa do ambiente. Os elos que unem estes novos movimentos são, assim, locais ou comunitários.  E as reivindicações localizadas e restritas não se constituem em movimentos sociais propriamente ditos. Para que tal acontecesse deveriam adquirir uma importância mais ampla e nacional. A direção para a qual devem caminhar os movimentos sociais são as instituições, enquanto fatores de mediação, no âmbito das decisões políticas. A sociedade, segundo Touraine, deve, assim, lutar para democratizar o acesso aos mecanismos de decisão e participação pelos cidadãos.  Para Alain Touraine, a alienação corresponde a uma participação dependente, ou seja, à integração dos indivíduos no jogo dos aparelhos dominantes que visam impor um modelo de desenvolvimento económico, aparecendo como única alternativa possível na defesa de toda a sociedade. E esta alienação identifica-se com integração, manipulação e sedução. Neste sentido, a obra de Alain Touraine, como a de George Gurvitch e Michel Crozier, é hoje fundamental para a consolidação e aperfeiçoamento da democracia e da cidadania ativa.

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