Em entrevista auto-ficcionada, que encerra o testemunho espiritual dedicado ao subscritor destas linhas, pode ler-se:
A MINHA RELIGIÃO
Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja, que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.
(…)
– Não referiste teres sido ordenado padre.
– Evitei mencioná-lo porque não é uma situação simples e posso ser mal entendido. Mas vou tentar. Os vínculos jurídicos, aliás já desfeitos, não me dizem nada e não tenho qualquer interesse em reatá-los. Jamais voltarei a ser clérigo. No entanto considero-me padre para sempre. No quadro de uma relação pessoal com Jesus de Nazaré, quero assumir isso como um peculiar e nunca revogável apelo a um estilo de viver que até à morte dê testemunho do Evangelho.
(…)
– Então e o Seminário dos Olivais? Parece que chegaste a reitor.
– Para mim, pessoalmente, foi a tarefa mais árdua e empolgante por que Deus me fez passar. Historicamente é vista como um fracasso tão grande que os próprios amigos evitam o assunto ou falam vagamente de antecipações do futuro… A ela me dediquei sem cálculo nem escudo e aprendi que a honestidade e a coragem ingénua pagam no momento. E é quanto basta. Pelo menos para este mundo. Para o outro, confio na infinita misericórdia de Deus.
Dedico este testemunho espiritual ao meu querido amigo, João Salvado Ribeiro.
Abílio Tavares Cardoso
Novembro de 2012
O Centro Nacional de Cultura homenageia a memória do Doutor Abílio Tavares Cardoso, não esquece a sua preciosa colaboração e apresenta à família e amigos sentidas condolências.