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UMA PEÇA DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA POR SEMANA

O Centro Nacional de Cultura e o MNAA divulgam algumas das peças mais significativas deste importante Museu.

Uma Peça do MNAA por Semana


O CNC e o Museu Nacional de Arte Antiga levam a efeito desde 2006 uma iniciativa comum de divulgação das peças mais significativas do primeiro Museu português. Deste modo, queremos promover o melhor conhecimento do nosso património cultural, incentivando a visita aos nossos Museus, e em especial ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Além da divulgação no portal www.e-cultura.pt e no sítio www.cnc.pt, promoveremos ao longo do ano outras iniciativas que serão divulgadas nos nossos programas trimestrais. A memória cultural constitui um factor fundamental para a melhor compreensão da nossa identidade, vista como realidade aberta, na encruzilhada entre a herança e a criação, entre a tradição e a inovação.


Agradecemos à Directora do MNAA e à sua equipa a oportunidade que nos dá de melhor conhecermos um acervo tão rico e fundamental para a compreensão do que somos como povo e como cultura.


Uma Peça do Museu Nacional de Arte Antiga
Semana de 24 de Junho a 1 de Julho de 2008


Fonte Bicéfala




Portugal, Oficina de Lisboa
Século XVI (1501-1515)
Pedra (calcário)
Aquisição (1939)
Inv. 644 Esc


Este coroamento de fonte deu entrada na colecção de escultura por aquisição a um particular, em 1939, já classificada como monumento nacional, e, desde então, transformou-se num dos ícones do MNAA. É composta por uma coluna torsa decorada com escamas de réptil rematada por duas bicas antropomórficas, uma com rosto feminino coroado e a outra, também coroada, com rosto masculino barbado. Nas faces laterais da coluna relevam-se dois escudos. O primeiro, de recorte irregular, tem a esfera armilar esculpida em alto relevo, com elíptica onde corre a inscrição E.M.P.R.P – Emanuel Primus Rex Portugaliae, correspondente ao nome de D. Manuel I (1495-1521) – em capitais romanas marcadas em relevo. No segundo, com o mesmo talhe, mostra-se o camaroeiro, empresa da rainha D. Leonor, mulher de D. João II (1481-1495) e irmã de D. Manuel I. A presença do camaroeiro situa a peça na órbita do mecenato de D. Leonor.

A representação simultânea das empresas de D. Manuel e de D. Leonor no mesmo monumento é rara, mas ocorre, por exemplo, no Pelourinho de Óbidos, padrão simbólico da justiça municipal da vila a que D. Manuel concedera foral novo (1513), mas cuja jurisdição continuava a pertencer à Casa das Rainhas. É no contexto da arte pública do período manuelino que esta peça se enquadra e, provavelmente, numa situação semelhante à de Óbidos, embora ainda não determinada. Trata-se pois de uma escultura civil, executada em calcário da região da Estremadura portuguesa por um canteiro anónimo, cuja originalidade reside na presença da representação antropomórfica numa tipologia de monumentos nos quais, contemporaneamente, a importância dos valores heráldicos é muito mais forte e raramente se cruzou com retratos emblemáticos.

Sob esta perspectiva cívica, o significado das escamas de réptil torna-se mais claro e perde a negatividade que alguns autores lhe atribuíram ao considerá-la ícone de uma hipotética participação de D. Manuel e de D. Leonor na morte por envenenamento de D. João II. O enlace sinuoso da serpente guardiã das águas define a coluna torsa – que é uma forma recorrente na arquitectura manuelina -, sublinhando a manifestação do domínio régio sobre a água enquanto elemento primordial do bem comum da grei.

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