COM: José Hipólito Monteiro [SPCN]; Ana Delicado [ICS]; José Vítor Malheiros [Público Digital]
MODERAÇÃO: Maria Eduarda Gonçalves [CNC]
O objetivo desta mesa-redonda foi, de certo modo, “ressuscitar” o debate sobre o papel das Associações e Sociedades Científicas (ASC), quando estas parecem em parte adormecidas numa sociedade em que a institucionalização da investigação e as pressões sobre os investigadores lhes “retira tempo”, a divulgação científica se profissionaliza (ex. Ciência Viva) e a comunicação se processa cada vez mais por via electrónica.
As sociedades científicas remontam aos séculos XVII e XVIII, época das primeiras academias científicas. Com o tempo, multiplicaram-se, diversificaram-se, internacionalizaram-se. Ana Delicado, coordenadora do único estudo sistemático sobre as ASC realizado até este momento em Portugal (Delicado et al. 2012), lembrou que as ASC são, no nosso país, um campo em expansão: se anos 80 pouco ultrapassavam as 70, posteriormente mais do que quadruplicaram, crescimento acompanhado por uma acentuada heterogeneização. As ASC proliferaram numa base voluntária e sem fins lucrativos, com missões de circulação do conhecimento, organização de encontros, edição de publicações, quando “havia tempo”. Algumas evoluíram para a constituição de ordens profissionais.
Sobre a sua experiência na Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (SPCN), José Hipólito Monteiro comparou os anos 70, quando ali se realizavam reuniões semanais, com o presente, em que os seus membros são sobretudo aposentados e a atividade esmoreceu. Hipólito Monteiro referiu-se também à FEPASC – Federação Portuguesa das Associações e Sociedades Científicas, instituída em 1991, no seguimento do 1º Encontro Nacional de Associações e Sociedades Científicas. A FEPASC representou, ao longo dos anos 90, uma interessante experiência de colaboração entre ASC, de interface com a sociedade civil e de representação da comunidade científica como “parceiro social” em órgãos de governação (e.g. o Conselho Nacional de Educação), mas encontra-se desativada (a FEPASC teve a sua sede no CNC).
As circunstâncias modificaram-se. Que sentido farão as ASC, na era da comunicação digital?
José Vítor Malheiros, que, como jornalista do Expresso e do Público, acompanhou as dinâmicas das ASC desde finais de 70, considerou que continua a fazer falta uma estrutura que permita a articulação entre ASC, opere como espaço de debate sobre política científica e facilite a representação e aconselhamento da comunidade científica junto do poder político.
O vivo debate com a assistência fez ressaltar a diversidade de situações que envolvem atualmente as ASC com exemplos de dinamismo a par de casos de “paragem no tempo” e o interesse e importância de reavivar a análise e a reflexão sobre as ASC e de repensar o seu papel social e político.
Maria Eduarda Gonçalves | 9 out. 2019