Reflexões

De 12 a 18 de Maio de 2003

A Festa no Chiado da Primavera chegou ao fim. Muitas dezenas de iniciativas encheram o Chiado e a Baixa. O objectivo, nunca é de mais repetir, foi dizer a todos que vale a pena vir a esta zona da cidade. No sábado, quando terminou o “Peddy-paper”, muitos compreenderam que, afinal, a descoberta árdua dos pequenos segredos da Baixa pôde ser oportunidade para dizer que a cidade está viva e que a memória é uma boa base para lançar os fundamentos de uma cidade renovada

A Festa no Chiado da Primavera chegou ao fim. Muitas dezenas de iniciativas
encheram o Chiado e a Baixa. O objectivo, nunca é de mais repetir, foi dizer a
todos que vale a pena vir a esta zona da cidade. No sábado, quando terminou o
“Peddy-paper”, muitos compreenderam que, afinal, a descoberta árdua dos pequenos
segredos da Baixa pôde ser oportunidade para dizer que a cidade está viva e que
a memória é uma boa base para lançar os fundamentos de uma cidade renovada.
Gonçalo Ribeiro Telles e José-Augusto França olharam, por isso, com olhos de
ver, para o futuro de Lisboa. Mudar a cidade exige a capacidade de compreender
que o improviso é mau conselheiro e que o mau gosto e o novo-riquismo são sempre
aliados da preguiça e da cegueira. Pensar a cidade é uma exigência do presente,
para que a falta de horizonte não origine um centro da cidade cada vez mais
deserto e inóspito. O centro da cidade tem de se tornar mais habitável e
amigável. Sem pessoas, sem afectos, sem convivialidade, uma cidade torna-se um
lugar triste de sombras. Felizmente que o Chiado, depois dos efeitos do grande
incêndio, está a regressar à vida – e esta Festa procurou, mais uma vez, deixar
isso claro para todos. Cabe aos cidadãos de Lisboa e a todos os que amam a
cidade transformar este lugar único em algo de aprazível e acolhedor,
hospitaleiro e civilizado. Há muito para fazer – e todos temos de nos associar
para esse efeito. A arte e a literatura encontram-se com o comércio e o lazer.
Tornar a cidade habitável é incentivar os casais jovens a virem morar para aqui
– o que obriga a alterações estruturais que têm de ser feitas. Adiar essa
decisão é não ter consciência do que terá de acontecer, para que a cidade
renasça. E se queremos lançar um projecto amigável, fazemo-lo para que o
anonimato dê lugar à presença de projectos com rosto. Os nossos jovens
intérpretes nos monumentos com música, os nossos jovens escritores no Café
Literário, os artistas presentes na nossa exposição de pintura (das obras
agraciadas no Prémio Banif), os nossos monitores dos Passeios e dos Encontros à
Esquina, os nossos concorrentes das gincanas – todos participaram numa operação
de criação de uma cidade mais humana. Trata-se de mudar a cidade para que as
pessoas, a tradição, a modernidade se entendam melhor. Como diria o poeta Daniel
Faria (1971-1999) (recordado no Sábado pelo Centro através dos seus amigos):
“Somarei a tua ausência à minha escuta/ e tu redobrarás a minha vida” (Homens
que São como Lugares Mal Situados) E a vida não pára.  Poucas horas depois
de fecharmos a Festa, continuámos com o nosso habitual Passeio de Domingo, à
descoberta dos Painéis de S. Vicente de Fora e do Museu da Arte Antiga. Sempre a
interrogação da memória e da vida actual. O CNC em acção! 
Guilherme
d`Oliveira Martins

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