Aproxima-se o final da viagem. Vaipim é agora o destino, falamos na outra banda de Cochim. Para aqui vieram os portugueses, com os seus teres e haveres, em virtude da conquista holandesa de 1663.
Anísio Franco recordou a visita de ontem ao Museu de Arte Sacra de Cochim, com peças de uma grande qualidade, apesar de se notar a usura do tempo, o pó, o envelhecimento das vitrinas de exposição, mas o importante é o deslumbramento causado pelas peças expostas, organizadas pela Drª Maria Helena Mendes Pinto, para a Gulbenkian.
Bárbara Assis Pacheco completa as impressões sentidas por todos, e recorda que no livro de impressões deixadas pelo público, se refere a qualidade pedagógicas do rapazito que vende os ingressos.
Segundo Helder Carita, no HPIP:
«No seu enquadramento paisagístico, junto das águas do Lago Vembanad e olhando, ao fundo, a cidade de Cochim, a Igreja de Nossa Senhora da Esperança, de Vaipim, assume uma clara função de sacralização do território envolvente desta cidade.
A existência de uma primitiva igreja no local é referida pela documentação a partir de 1560. Deste edifício inicial, situado na zona do atual cemitério, sobrevive a antiga torre sineira. Quanto à atual igreja, foi iniciada em princípios do século XVII, tendo‐se realizado a inauguração oficial em 1605, com a presença do bispo Andrea de Santa Maria (1588‐1610). No seu enquadramento arquitetónico, a igreja ergue‐se ao centro de um vasto terreiro circundado por cemitério, casa paroquial, capelas e habitação. Ao eixo do terreiro, a igreja articula‐se com um monumental cruzeiro dotando o recinto de um carácter vincadamente sagrado, característico das igrejas indo‐portuguesas do sul da Índia. Em termos estéticos, o edifício segue uma nova tipologia de matriz clássica e maneirista, com a fachada dividida por andares separados por entablamentos. A fachada opta, porém, por um esquema simplificado, sem dúvida pela sua filiação franciscana. A fachada não utiliza, assim, o esquema de colunas geminadas na separação dos tramos, nem os entablamentos de marcação dos andares são tão proeminentes como os que observamos nas igrejas do mesmo período. Pormenor particularmente interessante é o arcaísmo do portal de entrada, ainda de desenho manuelino.
No interior, a igreja apresenta uma nave única, de linhas simples, marcada por grande arco triunfal ladeado por dois grandes retábulos. Em contraponto com o altar‐mor, ergue‐se o coro alto, com um belo gradeamento de balaústres maneiristas assentando em duas grandes colunas toscanas. São, porém, os retábulos do altar‐mor e da parede cruzeira que encerram um dos aspetos mais notáveis da igreja. Oriundos da igreja do convento dos franciscanos, estes altares laterais revelam uma notável qualidade, não só na composição como no delicado pormenor da talha. Num requintado esquema maneirista, o retábulo do altar‐mor é composto por dois andares separados por entablamento reto, com coroamento de ático de feitura posterior. Grandes colunas coríntias estriadas, com decoração de brutescos no terço inferior, enquadram quatro grandes telas; São Domingos e São José, no andar superior, e São Francisco e Santo Agostinho, em baixo. Um belo púlpito, com bacia poligonal, é decorado com figuras em baixo‐relevo, tendo Jesus Cristo ao centro, ladeado pelos quatro evangelistas.
No século XIX a igreja recebeu obras de renovação, alterando sensivelmente o desenho original da fachada, como indiciam as urnas e as suas colunas torsas de gosto neoclássico. A igreja permanece, no entanto, no seu conjunto, como um exemplar único da arquitetura indo‐portuguesa do século XVII».
Crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:
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