Chegada a Calecute (Kozhikode), depois de um voo madrugador (e os protestos da Bárbara, por uma luz intermitente no quarto de hotel). Quando chegados, porém, ninguém duvidou da importância simbólica deste momento. Partida do hotel em autocarro para visitar a praia de Kappad, onde desembarcou a armada comandada por Vasco da Gama, em maio de 1498. Na busca de uma placa sobre o acontecimento, foram recordados o relato de Camões em “Os Lusíadas” e a crónica de Fernão Lopes de Castanheda.
«Já a manhã clara dava nos outeiros
Por onde o Ganges murmurando soa,
Quando da celsa gávea os marinheiros
Enxergaram terra alta pela proa.
Já fora de tormenta, e dos primeiros
Mares, o temor vão do peito voa.
Disse alegre o piloto Melindano:
“Terra é de Calecu, se não me engano.
“Esta é por certo a terra que buscais
Da verdadeira Índia, que aparece;
E se do mundo mais não desejais,
Vosso trabalho longo aqui fenece.”
Sofrer aqui não pode o Gama mais,
De ledo em ver que a terra se conhece:
Os geolhos no chão, as mãos ao céu,
A mercê grande a Deus agradeceu».
A lembrança desse momento ficou bem presente, percebendo-se, porém, que é Castanheda quem melhor descreve o que se passou e isso é fácil de reconhecer no terreno. E que buscavam os portugueses? Cristãos e especiarias. Como sabemos, no entanto, os esforços de Vasco da Gama para obter condições mercantis favoráveis foram baldados pelo baixo valor dos presentes para troca, com os representantes do samorim a depreciarem-nos, e os mercadores árabes a resistir naturalmente à possibilidade de concorrência indesejada. As mercadorias apresentadas pelos portugueses mostraram-se, de facto, insuficientes para impressionar o samorim, acabando por vender as suas mercadorias por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de especiarias e joias para levar de volta para o reino. Sabemos bem que se a missão de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva tivesse tido sucesso nada disto aconteceria.
Mas por parte do grupo a grande desilusão foi sentida perante a memória ou placa onde se assinala a chegada de Gama à Índia. Afastada da praia, sem a cerca que outrora a rodeou, sem a limpeza necessária. E, no entanto, Arnold Toynbee e os grandes historiadores consideram que ali se iniciou a «era gâmica», com a qual começou a globalização. Algo faltou. Mas a Bárbara desdobrou-se em elogios à alimentação dos hotéis, apaixonou-se pelo nascer do sol nas backwaters, descreveu-nos a beleza das festividades de Onam, que celebram as colheitas e as famílias, e lembrou como os indianos substituíam a cal para fazer a argamassa na fortaleza de Coulão, que os portugueses conheciam, mas que aqui tinha de ser feita, moendo as conchas das praias. A visita a Calecute prosseguiu com a visita à mesquita de Kuttichira, que segundo relatos antigos é do século XIV (1340), mas que, de facto, segundo Anísio, tem uma construção mais recente, com fachadas de uma grande originalidade e colorido, e até, de certo modo, influência da arte indo-portuguesa. No entanto, infelizmente, o grupo não foi autorizado a entrar no templo, que representa a influência do Islão nesta importante região da Índia. O dia de Calecute foi, assim, naturalmente compreensível – e até consta que houve uma representação, de Anísio e Albert, sobre o diálogo de Gama e com o enviado do Samorim, com sombreiros e umbelas…
Crónicas de Anísio Franco e Bárbara Assis Pacheco:
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