Reflexões

De 5 a 11 de Maio de 2003

O Chiado está em festa – partir de hoje. Dezenas de iniciativas encherão o Chiado e a Baixa. O objectivo é dizer a todos que vale a pena vir a esta zona tradicional da cidade. E agora que a Primavera está no auge e que os jacarandás começaram a florir, é indispensável que descubramos a cidade e que encontremos bons motivos para a tornar mais viva. Descubramos uma oportunidade para ver, para passear, para conversar e para desfrutar o coração de Lisboa …

O Chiado está em festa – partir
de hoje. Dezenas de iniciativas encherão o Chiado e a Baixa. O objectivo é dizer
a todos que vale a pena vir a esta zona tradicional da cidade. E agora que a
Primavera está no auge e que os jacarandás começaram a florir, é indispensável
que descubramos a cidade e que encontremos bons motivos para a tornar mais viva.
Descubramos uma oportunidade para ver, para passear, para conversar e para
desfrutar o coração de Lisboa – os museus, as galerias, as lojas, os
restaurantes, as livrarias ou apenas os jardins, as ruas, os passeios. O`Neill
diria: “Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,/  na terra onde nasceste e eu nasci?” Que
fazemos? A cidade precisa das pessoas e da consciência do tempo e da História –
dessa História que está em cada pedra, em cada casa, em cada rua ou recanto. Há
dias recordávamos que “o Chiado literário nunca teve horas. Começava ao fim da
manhã, à hora tardia de almoço (porque se almoçava cedo). Havia “lunchs” a
partir das duas horas, até às ceias tardias, depois da ópera ou das récitas de
S. Carlos, madrugada alta. Sarah Bernhardt aqui ceou – com champagne da Veuve
Cliquot. Passos Manuel, Herculano ou José Estevão eram assíduos do Marrare e aí
bebiam infusões de “Moka”. O Marrare era “o mais notável pasmatório do Chiado, o
primeiro palratório da velha Olisipo, o café mais lisboeta da Lisboa amada” – no
dizer de Tinop. Havia um bife, com ou sem ovo a cavalo, com muito molho, ou ovos
mexidos? Liam-se os jornais e fumava-se”. Eça, Ramalho, Garrett, Bulhão Pato –
todos por aqui passaram. “Desciam e subiam o Chiado portugueses suaves, como
Afonso Lopes Vieira, ou agrestes, como Alfredo Pimenta, e, em passeios
diferentes, por certo, Júlio Dantas e Almada Negreiros. Aqui se fizeram e
desfizeram revoluções (…) em volta de cafés fumegantes. A Lisboa “chique”
cruzava-se com a Lisboa culta. Abel Manta imortalizou a leitura de Aquilino – a
uma mesa de café. Café e literatura são ingredientes do Chiado eterno”. Mas
precisamos de interrogar a cidade e de preocupar-nos com o que permita tornar a
cidade mais humana. Mudar a cidade para que as pessoas e a tradição, a
modernidade e a natureza se entendam melhor. Dentro desse espírito, de ligar o
antigo e o novo, de aprender com os pássaros e as flores, de seguir os passos
das pessoas de carne e osso, vamos poder ouvir o diálogo de quem sabe sobre o
futuro da Baixa. José-Augusto França e Gonçalo Ribeiro Telles aqui estarão, dia
6, ao fim da tarde para a interrogação e a reflexão que se impõem – com “utopia
e pés na terra”, como convém. E vamos ter poetas e escritores. E reencontraremos
Fernando Pessoa e Almada Negreiros com João d`Ávila. E teremos musica nos
monumentos, livros e galerias, gincanas e passeios e encontros à esquina com
peregrinações à procura dos pequenos segredos que a cidade esconde. É tempo. Que
viva a Festa no Chiado! 

Guilherme d`Oliveira Martins

Subscreva a nossa newsletter