Reflexões

De 14 a 20 de Abril de 2003

É Páscoa! Estamos num tempo de chamar as pessoas à razão e ao bom senso – e de lembrar uma morte redentora. Ruy Belo diria: “Não sei se busco um mundo na verdade não o sei/ sei só que existe um mundo de que fujo”…

 1. É Páscoa! Estamos num
tempo de chamar as pessoas à razão e ao bom senso – e de lembrar uma morte
redentora. Ruy Belo diria: “Não sei se busco um mundo na verdade não o sei/ sei
só que existe um mundo de que fujo” (Toda a Terra). E João Bénard da
Costa: “À medida que esta danosa guerra, que esta inevitável guerra, se preparou
e não se declarou, tudo se tornou muito pior. Confesso que me precipito
diariamente para ler os mestres – nacionais ou estrangeiros – à espera
de ver justificado o partido que tomaram. Não consigo” (Público,
4.4.03).


2. O alargamento europeu ao centro e ao leste
é uma consequência do fim da guerra fria. A participação das jovens democracias
saídas da esfera do império soviético na construção europeia é inexorável e
deverá ser um factor de enriquecimento da construção europeia. Há, por isso, que
colocar a ênfase na criação da Europa política – enquanto União de Estados
livres e soberanos, capaz de construir um espaço de segurança e de paz, de criar
um projecto de desenvolvimento e de coesão e de afirmar a diversidade e a
complementaridade de identidades e de culturas. Por isso, a definição dos
interesses comuns e das instituições para a sua defesa e salvaguarda torna-se
essencial. E nesse ponto temos de compreender que os nossos novos parceiros do
centro e do leste da Europa desejam uma resposta clara – que, a um tempo,
concretize a solidariedade e garanta um espaço de autonomia e diversidade. E se
hoje a ideia de cooperação euro-atlântica constitui, para eles, a alternativa à
antiga lógica do Pacto de Varsóvia, a União Europeia tem de o entender,
respondendo com unidade e coerência e reencontrando um projecto comum. E os
Estados Unidos têm de o compreender também, em lugar de apostarem na divisão e
na subalternidade europeia – que os europeus não desejam. Quando Adam
Michnik ou Bronislaw Geremek, europeístas da melhor cepa, insistem na
solidariedade euro-atlântica fazem-no, colocando-nos perante as consequências
dos erros da autosuficiência e da uniformidade. Contra as vozes de outro lado do
Atlântico de sobranceria e desprezo relativamente à construção europeia,
deveremos saber contrapor uma inteligente unidade de diferenças. A verdade é que
o projecto europeu será seriamente afectado se não tomarmos consciência da sua
fragilidade, dos perigos da divisão, da tentação de deixar tudo na mesma e da
necessidade de dar passos corajosos no sentido de pôr fim ao veto dos egoísmos
nacionais e de criar uma política externa, de segurança e de defesa comum. E
sejamos muito claros, essa fragilidade só será ultrapassada se os cidadãos
europeus compreenderem que a igualdade entre os Estados e a igualdade entre os
cidadãos fazem parte de um mesmo projecto comum. Boa Páscoa e bons votos de
Paz!


Guilherme d`Oliveira Martins

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