UM LIVRO POR SEMANA
De 5 a 11 de Junho de 2006
“Religiões – História, Textos, Tradições”, coordenado cientificamente por Paulo Mendes Pinto, sob a supervisão da Estrutura de Missão para o Diálogo com as Religiões, dirigida pelo Padre Miguel Ponces de Carvalho (Paulinas, 2006) vem preencher uma importante lacuna no panorama cultural português. O projecto “Religare” visa promover um melhor conhecimento mútuo e do aprofundamento do fenómeno religioso. O conhecimento das religiões é fundamental no momento presente. Só pode haver diálogo inter-religioso, respeito, compreensão e liberdade religiosa se soubermos do que estamos a falar, em especial se entendermos as raízes comuns e os caminhos diversos que as religiões tomaram ao longo dos tempos. Nas sociedades abertas e pluralistas impõe-se responder à “tirania da indiferença”, através do respeito das convicções e do apelo aos fundamentos da dignidade da pessoa humana. No caso desta obra, uma ampla panóplia de autores com provas dadas nas respectivas áreas de reflexão e acção dá-nos garantia de uma abordagem plural, séria e aprofundada, sobre as religiões e os seus textos, sobre a espiritualidade e a mística e sobre as referências históricas fundamentais. Temos um roteiro que nos guia pelas complexas veredas do Hinduísmo, do Judaísmo, do Budismo, do Cristianismo, do Islão e da Fé Bahá’i e o resultado do contacto com os textos referenciais dessas confissões é para o leitor de uma grande utilidade, uma vez que há uma preocupação pedagógica de clareza, aliada ao rigor posto quer na elaboração e na escolha dos textos quer na sua apresentação e enquadramento. Como diz Alfredo Teixeira na Introdução: “Entendidas as tradições religiosas como património da Humanidade, será certamente decisivo conhecer a humanidade que se diz nelas e descobrir o trabalho da construção de possibilidades de sentido que as tece”. Ora a incomensurabilidade da religião face a outros saberes e visões do mundo, levou a um certo isolamento desta “nos limites da consciência individual ou nas fronteiras dos comunitarismos”. No entanto, “as narrativas sagradas são habitadas por (uma) necessidade de descoberta genealógica do fundamento da cultura”. Mircea Eliade falava, por isso, da noção de “hierofania”, como manifestação do sagrado que institui um ponto de referência. Temos um sistema de símbolos que funciona como memória das culturas. E há uma permanente proposta da releitura desses elementos simbólicos disponíveis. Herança e continuidade obrigam a que haja quem acompanhe o caminho do espírito, reconhecendo-se a importância da mediação e da consciência do tempo. Daí que Max Weber tenha colocado a religião entre os itinerários de aprofundamento da racionalidade humana, do mesmo modo que Regis Debray chama a nossa atenção para o contributo religioso na emancipação comunicativa da História humana. No fenómeno religioso descobrem-se as pessoas, longe da abstracção e da indiferença, na tolerância positiva e o respeito. Só um património partilhado pode evitar não só a iliteracia religiosa, mas também a “logocracia” dos que levam os textos sagrados a invadir o espaço público como arma de exclusão… Os fundamentalismos nascem aí. A liberdade religiosa e a aceitação do fenómeno religioso, pelo contrário, exigem conhecimento e compreensão…
Guilherme d’Oliveira Martins