Faleceu o filósofo português FERNANDO GIL, este domingo, em Paris.
Tinha 69 anos de idade.
Foi na capital francesa que Fernando Gil se doutorou em Filosofia, na Universidade da Sorbonne; depois da licenciatura em Direito em Lisboa.
Em 1993, o filósofo recebeu o Prémio Pessoa. Um ano antes foi galardoado como Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Fernando Gil publicou várias obras e foi consultor de Mário Soares em Belém, durante dez anos, e do ministro da Ciência e Tecnologia, Mariano Gago.
O ministério chefiado por Mariano Gago lamenta “esta enorme perda para a filosofia e a ciência” portuguesas. O ministro Mariano Gago anunciou, este domingo, a criação de um Prémio Internacional com o nome do filósofo desaparecido, Fernando Gil.
FERNANDO GIL OU A ARTE DA LUCIDEZ.
por Guilherme d’Oliveira Martins
Fernando Gil é uma referência fundamental da filosofia contemporânea. O seu percurso foi o percurso do século. Em Lourenço Marques teve o encontro inesperado com a “Heterodoxia” de Eduardo Lourenço. Debateu-se com essa reflexão. Mas não o considerou “inimigo ideológico”. Resistiu, tentou respostas, mas, entendeu que estava muito mais próximo dessas inquietações do que de leituras fechadas e hirtas. E antes do fim da década, pôde reler, com concordância plena: “no plano do conhecer ou no plano do agir, na filosofia ou na política, o homem é uma realidade dividida. O respeito pela sua divisão é Heterodoxia”. Fernando Gil começou pela formação jurídica, mas depois seguiu a sua paixão pela filosofia do conhecimento. Quando em 1984 publicou “Mimésis e Negação”, sua obra-prima, dedicou o livro à memória de José Marinho – “Mestre de Verdade, que conversava à noite com os anjos e de manhã não acreditava neles”. Ele era também, assim. O seu sentido crítico e a sua exigência intelectual levaram-no a considerar os vários lados da realidade, para poder aproximar-se da verdade. “A sensibilidade é o domínio do diverso e o entendimento o domínio do idêntico”. Ao lidar com o conhecimento, soube pôr a tónica na “ciência como cultura” e na procura incessante das “provas” e das “evidências”.